O tempo do colinho de Marcelo Rebelo de Sousa ao Governo esfumou-se. Teve o seu zénite na geringonça e soou o requiem no dia em que António Costa bateu o pé e não aceitou recado via jornal para a demissão de João Galamba. Desde então, vivemos uma guerra fria entre ambos, feita de sorrisos, alfinetadas e tiradas duras, mais ou menos evidentes, quando a ocasião se proporciona.

O episódio do Conselho de Estado é só mais um apontamento na cristalina fricção entre Belém e São Bento. Faz-se uma segunda parte desta reunião de senadores para concluir a de 21 de julho, interrompida porque o primeiro-ministro partiu para a Nova Zelândia para o primeiro jogo da história do futebol feminino português num Mundial. Tira-se Ramalho Eanes e Manuel Alegre do seu descanso para a ocasião e, depois, Costa nem uma palavra dá, nem para se juntar ao voto unânime dos conselheiros que aprovaram a ida de Marcelo à Ucrânia.

Costa assume-se como fazedor e não comentador, mas o seu silêncio no Conselho de Estado é um dardo envenenado contra o Presidente da República. Voltamos, assim, a uma reprise dos relacionamentos conturbados de Mário Soares/Cavaco Silva ou Cavaco Silva/José Sócrates, que quase bloquearam a acção governativa. Ora, isto são péssimas notícias quando temos um país que precisa de reformas e um PRR para ser aplicado eficazmente. Que volte a paz institucional rapidamente.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.