Aproximamo-nos das eleições presidenciais, num momento crítico para a nossa vida colectiva. A crise pandémica em que nos encontramos imersos pode desencadear uma cascata de outras crises, que terão sempre um impacto superlativo num país frágil como o nosso. É o pior dos momentos para sermos levianos ou caprichosos na altura de preencher o boletim de voto.

Será uma eleição onde teremos um único candidato a Presidente da República, em contraponto a cinco candidatos de nicho; dois populistas, um estalinista, uma trotskista e uma inexistência. A grande opção a fazer é entre entregar um voto de confiança e missão a Marcelo ou, neste momento crítico, desperdiçar o voto numa qualquer afirmação pessoal ou partidária inconsequente.

Mais do que nunca, o país precisa de estabilidade e unidade. Em face de quatro candidatos que, de diferentes formas, se afirmam pela divisão, pelo exacerbar da diferença, pela promoção da desconfiança e da conflitualidade, a recandidatura de Marcelo representa exactamente o oposto. Marcelo exerceu um permanente magistério de pacificação, exaltou a união que nos fortalece, combateu sem tréguas a conflitualidade e o divisionismo. Foi o Presidente de todos os portugueses, sem excepção. Os outros concorrentes assumem-se como os representantes da sua tribo contra a tribo inimiga.

O estilo dos Presidentes nunca é consensual. Apesar de gostar do estilo de Marcelo, compreendo perfeitamente que possa haver quem não goste. Por vezes, a hiperactividade do Presidente é difícil de acompanhar, por vezes, parece demasiado. Compreendo quem faz esta crítica. Mas, se também eu considero excessivo um telefonema presidencial em directo para uma entertainer televisiva, depressa o relevo em face de todos os telefonemas que levam uma palavra de conforto a muitos portugueses em aflição, ou de todos os que encorajam e exaltam as virtudes individuais ou colectivas do povo até agora invisível.

Marcelo não se cansa de puxar por tudo o que é bom, por tudo o que possa servir de exemplo, por tudo que reforce o espírito português. Nenhum Presidente o fez desta maneira. Não é qualquer síndrome de snobeira parola, apodando o Presidente de popularucho, que belisca esta aposta no melhor de Portugal e dos Portugueses. Sim, o Presidente também o representa, também tem um vínculo, com cada uma das pessoas com quem tira uma das inúmeras selfies. E, ainda bem que fica genuinamente feliz ao fazê-lo. Ainda bem que quebrou a distância, o hermetismo e, em alguns casos, a arrogância distante de alguns dos seus antecessores.

Tenho um enorme respeito pelo Presidente que troca o conforto lisboeta pelo Natal junto àqueles que em cada momento mais sofrem. O Presidente que sai à rua noite dentro para levar apoio aos que a sociedade esqueceu, confrontando-nos com as nossas próprias falhas. O Presidente que é Católico, mas investe seriamente no diálogo Inter-religioso como via para a paz social. O Presidente que está rigorosamente sempre onde é preciso, junto de quem mais precisa. O Presidente que partilha com uma acessibilidade rara a sua cultura, estimulando cada um a valorizar o conhecimento. Há quem diga que é uma banalização do papel presidencial; Marcelo será tudo menos banal.

Acredito na força e no potencial de uma nova Portugalidade. As visitas presidenciais à África que já foi portuguesa, e continua nossa irmã, foram um sucesso cultural e diplomático sem precedentes. Nenhum português pode ficar indiferente ao que aconteceu em cada sítio por onde Marcelo passou. O carinho infinito dos nossos irmãos africanos só encontrou rival na ternura sem reserva nem medida que Marcelo pôs em cada beijo, em cada abraço, em cada troca de olhares. Se quisermos ser honestos, facilmente admitimos que só Marcelo consegue construir este tipo de irrepetíveis pontes.

Por fim, no plano político interno. Marcelo fez o que prometeu. Promoveu a estabilidade possível em cada momento. Sim, foram dois governos maus, da esquerda coligada com a extrema-esquerda; mas não cabia ao Presidente demiti-los ou provocar crises de consequências imprevisíveis. A dura verdade é que, em momento algum, o conjunto da direita se constituiu como alternativa sólida, capaz de gerar uma maioria parlamentar em resultado de uma crise e consequente ruptura.

Nos momentos de fragilidade governativa, nunca houve indício de que a maioria dos portugueses estivesse com vontade de virar à direita com o peso que permitisse resgatar o país das esquerdas. O Presidente foi inteligente ao não abrir crises que pudessem resultar no reforço dos culpados por essas mesmas crises.

Não há memória ou registo de uma presidência com tantos vetos e devoluções. Todos eles sérios e pertinentes, todos eles manifestos políticos que sublinham um homem estruturalmente do centro direita humanista, mas consciente de ser o Presidente de todos os Portugueses.

Não há mandatos sem falhas. Não gostei do comportamento presidencial na crise da Procuradora Geral da República, na crise do Governador do Banco de Portugal, nalguma brandura com erros graves do governo socialista. Foram actos que me deixaram incómodo, nos quais não me revi. Mas, feito um exercício de memória, infinitamente menos e menos graves do que os que se podem facilmente encontrar em cada uma das anteriores presidências.

Por fim, recordo o resultado histórico da segunda eleição de Mário Soares. Recordo que Soares, no primeiro mandato, negou aos seus a formação do governo Constâncio, daí resultando a longa era cavaquista e uma enorme travessia do deserto para os socialistas. Recordo que na sua recandidatura, o MASP II era um verdadeiro albergue espanhol onde cabia tudo, da extrema esquerda à direita conservadora. Teve o apoio e o voto massivo do centro e da direita. Ao contrário das franjas da direita que hoje enjeitam Marcelo, a esquerda teve sempre a inteligência de fazer lembrar que Soares era o seu símbolo maior, a grande referência, a ponto de até a direita se render às suas qualidades e encantos.

Eu fico feliz por ver a esquerda rendida a um Presidente estruturalmente de centro-direita. Serão sempre bem vindos a votar nos nossos!

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.