O fundo que ficou com parte das dívidas e ativos do grupo Promovalor, de Luís Filipe Vieira, ao Novo Banco não vai conseguir cumprir o plano de reembolsos previstos aquando da sua constituição. Nuno Gaioso Ribeiro, presidente da C2 Capital Partners, afirmou nesta terça-feira que “dificilmente” o fundo que ficou com património da Promovalor vai atingir o primeiro objetivo de reembolsar 60 milhões de euros ao Novo Banco em 2022. “Vejo hoje com dificuldade que essa meta possa ser atingida”, referiu Nuno Gaioso Ribeiro em resposta aos deputados.
Só na liquidação do fundo se saberá se Novo Banco terá ganhos ou perdas face ao valor inicial do investimento. O diferencial entre o valor investido e o valor recuperado está garantido por um aval.
“Se não forem cumpridas as metas, o Novo Banco tem a opção de venda da participação do fundo ao sócio do fundo por um valor que está avalizado”, disse. Esse sócio é o presidente do Benfica.
O Jornal Económico confirmou que o aval que garante o valor que o banco vai recuperar da participação do fundo é de Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica.
O Novo Banco assegurou um mecanismo em que o banco colocou metas de recuperação de capital e a fatia de 60 milhões a devolver no próximo ano não deverá ser paga na sua totalidade, segundo admitiu o presidente da sociedade gestora do fundo.
“Têm existido dificuldades operacionais no Fundo que podem comprometer, nesta conjuntura inesperada e no curto prazo, alguns objetivos previstos atingir ao fim de cinco anos”, referiu o gestor da C2 Capital Partners, a antiga Capital Criativo, sociedade de private equity que absorveu créditos da Promovalor ao banco e os colocou num fundo, o FIAE, constituído em 2017. Esse período de cinco anos termina no final de 2022, ano em que estava prevista a devolução de 60 milhões ao Novo Banco, segundo os deputados.
Ativos no Brasil e em Moçambique
Nuno Gaioso Ribeiro disse que a meta do primeiro reembolso do Novo Banco só será atingida quando for possível vender um ativo de relevo, como é o caso de um edifício de escritórios em Moçambique ou de um hotel de luxo no Recife (Brasil) que “está fechado desde o inicio da pandemia”. O gestor disse que o fundo pretende reabrir o hotel “com outra marca e outro operador” para valorizar o ativo.
Explicou que o hotel em Pernambuco encontra-se fechado e só poderá ser vendido quando abrir e tiver resultados positivos. Também sinalizou ser remota a possibilidade de ser possível efetuar no curto prazo a venda do edifício em Maputo, a não ser que surgisse uma “sorte inesperada” naquele mercado.
Nuno Gaioso Ribeiro explicou a intervenção no processo de constituição e (também) na gestão de um Fundo de Investimento Alternativo Especializado (Fundo ou FIAE) que adquiriu créditos detidos pelo Novo Banco (NB).
Os ativos principais de uma carteira com um total de 11 ativos em Portugal (Parque do Oriente, Quinta do Cochão, Quinta dos Fidalgos, Pinheirinho, Páteos da Luz, Sesemarias, Brancanes, lotes Azur Villa, lojas Cabanas, Monte Caído e Monte Gordo Residences), um ativo em Espanha (Finca d’Arcos), dois ativos em Moçambique (Platinum Mártires da Machava) e, presentemente, um ativo principal no Brasil (hotel Reserva do Paiva).
Nuno Gaioso Ribeiro referiu ainda que com a pandemia “a sociedade gestora deixou de cobrar comissões de gestão” ao próprio fundo. As comissões deste fundo são 0,3%. “É a comissão mais baixa do mercado”, garantiu.
O contrato com o fundo foi assinado em setembro 2017, relatou Mariana Mortágua que disse que ficou de lado a dívida da Imostep, que são 54 milhões, ficaram de lado os VMOC de 160 milhões de euros. A Promovalor devia cerca de 247 milhões ao Novo Banco, o que incluía um crédito de 8,6 milhões para a Herdade do Paiva no Brasil, dado em 2016. O banco ainda deu um novo empréstimo de 3,7 milhões para o Brasil e o compromisso de financiar 6,2 milhões ao longo do tempo.
Mortágua relatou que para o fundo Luís Filipe Vieira entrou com um financiamento de cinco milhões, a Capital Criativo entrou com 500 mil euros e a Promovalor com 500 mil euros, e o fundo ainda ficou com créditos ao Novo Banco no valor de 84,4 milhões de euros. O Novo Banco aumentou a sua exposição à Promovalor em pelo menos 10 milhões de euros. “Está a juntar à reestruturação créditos que foram contratados antes da reestruturação. Essa linha de seis milhões já estava concedida antes da reestruturação”, disse o gestor do fundo.
Com a constituição do Fundo, em novembro de 2017, foram adquiridos ao Novo Banco 133,9 milhões de créditos e foram, ainda, reestruturados pelo banco (isto é, mantiveram-se no seu balanço) financiamentos existentes de 85,8 milhões de euros, perfazendo a operação o montante total de 219,7 milhões de euros. Esta é a dimensão financeira, rigorosa, verdadeira e factual, da operação de reestruturação em causa, e o Novo Banco ficou, exatamente, com 95,89% do capital total subscrito do Fundo, que é de 146,1 milhões de euros.
É do somatório de 133,9 milhões de créditos e dos 12,2 milhões de nova liquidez posta no fundo que resulta o montante do fundo de 146,1 milhões de euros, explicou.
O Novo Banco não tinha garantias reais sobre o conjunto de ativos que traduzissem o conjunto da dívida alocada a esses ativos. O crédito foi dado pelo então Banco Espírito Santo.
No Brasil, o Novo Banco tinha uma garantia que representava menos de 10% do investimento total feito no ativo e o hotel no Recife tinha um litígio substantivo com a construtora (Odebrecht) que reclamava créditos que tinham privilégios. Simultaneamente havia dívidas à autoridade tributária brasileira que também tinham privilégios. Pelo que “esta nova liquidez foi aplicada para proteger o ativo de terceiros”, explicou.
O gestor explicou que os ativos que ficaram no fundo precisam de financiamento para serem desenvolvidos, e que estava já consagrado no plano de negócios um financiamento, não teria que ser o Novo Banco a fazê-lo, mas não seria fácil ser outro banco porque o Novo Banco tem a primeira hipoteca sobre os imóveis.
Nos terrenos (em Portugal e Espanha) é preciso investimento de longo prazo, e capital intensivo, para recuperar o ativo e isso pode ser feito com financiamento ou com parceiros investidores.
Já relativamente a Moçambique, “já não é preciso capital relevante porque os escritórios já estão arrendados parcialmente. No Brasil, uma vez resolvido o problema com o construtor (o hotel só passou para o fundo no fim de 2019), e com o encerramento com a pandemia, renegociamos a saída do operador, e abrimos um concurso para um novo operador para explorar o hotel e temos sete propostas internacionais para fazer a gestão e a exploração do hotel de modo a permitir recuperar capital sem investimento relevante”, revelou.
Está a ser pedido um novo financiamento ao Novo Banco depois da reestruturação para desenvolvimento. Os pedidos de financiamento somam 21 milhões de euros para financiar as infraestruturas e início do projecto conhecido como Quinta do Cochão e simultaneamente para o Pinheirinho (Tavira) 10 milhões de euros. Não estão concedidos nem autorizados, ressalvou Nuno Gaioso Ribeiro.
O comité de investimento do fundo é dominado pelo Novo Banco, mas tem um representante da Promovalor e de Luís Filipe Vieira, explicou ainda o fundador do FIAE (Fundo de Investimento Alternativo Especializado).
Mariana Mortágua lembrou ao gestor do fundo que em Maputo, a maior parte do Edifício Platinum, foi dado em dação ao Moza Bank (não pertence ao fundo).
“O plano de negócios ambicioso inicial não está a ser cumprido”, disse a deputada do Bloco de Esquerda, que adiantou que o fundo teve perdas de 39 milhões em 2018 e de 83 milhões em 2019 que estão registados no banco.
Gaioso Ribeiro concordou que os projectos das parcerias são hoje “de difícil realização”, no Brasil.
“A meta que estava prevista para daqui a um ano e meio pressupõe a venda de um ativo relevante. Vejo hoje com dificuldade que essa meta possa vir a ser atingida. Essa meta implicava que fosse feita ou a venda do edifício de escritórios em Moçambique, ou pela venda do hotel no Brasil e está encerrado desde o inicio da pandemia, e temos a expectativa que possa reabrir com outra marca e outro operador, e só com a exploração positiva estaremos em condições de fazer uma venda.
Em Moçambique renegociamos o litígio com o credor, conseguimos acabar a construção e já agora, a parte que transitou para o fundo tem apenas a ver com a parte de escritórios”, explicou o gestor que lembra que a situação de pandemia paralisou a exploração hoteleira e a comercialização de ativos imobiliários.
Na intervenção inicial o gestor disse que “quero ser muito claro: têm existido dificuldades operacionais no Fundo que podem comprometer, nesta conjuntura inesperada e no curto prazo, alguns objetivos previstos atingir ao fim de 5 anos (ou seja, dezembro de 2022). Umas, decorrentes de atrasos entre 9 e 24 meses na integração dos ativos no Fundo. Outras, decorrentes da resolução de litígios complexos e da eliminação de contingências, em especial com credores históricos, o que tem sido conseguido com sucesso, com tempo e com poupanças relevantes (totais de 15,7 milhões). Dificuldades muito agravadas, por fim, pela pandemia, que provocou a interrupção da colocação comercial dos imóveis e da exploração hoteleira – com impacto relevante, desde logo, a suspensão da colocação para arrendamento dos escritórios do Edifício Platinum (Moçambique) e o encerramento total do hotel Sheraton Reserva do Paiva (Brasil), mas também a colocação no mercado de outros ativos imobiliários e o acesso, o que impacta o plano de negócios, a libertação de caixa e a posição global de liquidez do Fundo”. Sendo certo que os ativos estão hoje preparados, livres e protegidos de terceiros, defendeu.
Filipa Roseta, deputada do PSD, questionou o CEO da C2 Capital Partners com a desvalorização de 33% sobre o valor de aquisição em 2017 dos ativos imobiliários em Portugal. Essa desvalorização é calculada em 2020. A diferença é entre 92 milhões para 62 milhões de euros. Filipa Roseta lembrou que entre 2017 e 2020 o mercado imobiliário subiu. A desvalorização, segundo o gestor, prende-se com o facto de, apesar da procura imobiliária ter crescido, terem aumentado os custos de construção, que retira a margem do valor residual do terreno. “Estamos a falar de Alverca, de Loures, e de um terreno no Algarve”, lembrou.
No imóvel Parque do Oriente houve uma desvalorização de 8,2 milhões (32%) face à valorização inicial, passou de 26,8 milhões para 18,2 milhões de euros, em fim de 2020. Houve uma alteração urbanística foi revogado o alvará, lembrou o gestor.
Na Quinta do Cochão o investimento deve ser prioritário, segundo o gestor que lembrou o financiamento pedido ao Novo Banco. Houve uma desvalorização de 10,5 milhões para 9,5 milhões de euros nesse imóvel, revelou.
No Pinheirinho (em Tavira) estão a fazer uma revisão do projecto, admitiu o gestor, que lembrou que esse ativo teve uma desvalorização de 24 milhões para 19 milhões de euros, entre 2017 e 2020.
Nuno Gaioso Ribeiro, CEO da C2 Capital Partners, esteve esta terça-feira, 27 de abril, na audição da Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução.
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