“Para financiar o futuro há que mobilizar o capital próprio da Europa para impulsionar mercados profundos e completos, adequados para campeões globais”, defende a Atomico no seu relatório “The State of European Tech” que é elaborado em parceria com a Amazon Web Services, a Orrick, o HSBC Innovation Banking e a Slush.
A Atomico defende que o próximo passo para a Europa é desenvolver o seu ecossistema em fase de crescimento (aquelas que já passaram da fase inicial de startup e procuram expandir-se). Para isso, precisamos de mais fundos de pensões e governos a atuarem como Limited Partners (LPs), ou seja, como investidores que aplicam capital nos fundos de capital de risco (Venture Capital) e private equity, mas com responsabilidade limitada ao montante investido.
A empresa europeia de capital de risco sediada em Londres revela neste relatório que o investimento em capital de risco aumentou 7%, para 44 mil milhões de dólares, e os fundos de pensões europeus aumentaram as suas alocações em capital de risco em 55% em 2024 — de 650 milhões de dólares para mil milhões de dólares. O segundo semestre de 2024 gerou 14,7 mil milhões de dólares em novos capitais, o segundo semestre mais forte desde 2021.
As empresas tecnológicas do sul da Europa deverão angariar 2,9 mil milhões de dólares em 2025, antecipa a Atomico.
“O mito persistente do fraco desempenho do capital de risco europeu está a ser desmentido: o capital de risco europeu supera os retornos dos EUA num horizonte de dez anos e supera os mercados públicos europeus em 10 pontos percentuais ao longo de mais de 10 anos”, defende a empresa.
“É verdade que as pensões europeias ainda estão três vezes abaixo das americanas. Se se equipararem aos níveis de alocação dos EUA, 210 mil milhões de dólares adicionais poderiam fluir para o capital de risco na próxima década. No entanto, os países do sul da Europa registam o segundo menor investimento de capital do continente em percentagem do PIB, com 0,06, menos de metade da média europeia de 0,17%”, destaca a Atomico.
O estudo refere que “quando as empresas atingem a maturidade, vão acabar por se deparar com mercados públicos fragmentados que carecem da profundidade, liquidez e sofisticação necessárias para apoiar os campeões europeus com ambições verdadeiramente globais”.
A Atomico destaca que a Europa capturou 10% dos 608 mil milhões de dólares em valor global de tecnologia em 2025. No entanto, o apoio institucional está a ser reforçado. “Os compromissos do Fundo Europeu de Investimento para o sul da Europa aumentaram de 8% para 24% em 2024, o que representa um importante voto de confiança”, revela a Atomico.
O sul da Europa também detém a segunda maior quota de fundos de pensões AUM (assets under management) comprometidos com capital de risco, com 0,022%, logo atrás da França e do Benelux, acrescenta o relatório.
A tecnologia profunda e a IA agora equivalem a 36% do capital de risco europeu, contra apenas 19% em 2021, realça a Atomico.
O financiamento em tecnologia de defesa aumentou 55% em relação ao ano anterior, para 1,6 mil milhões de dólares, e 31% de todo o financiamento europeu levantado em 2025 foi para empresas que desenvolvem inteligência artificial (IA) e machine learning (ML).
“Apesar dos EUA investirem em maior escala na IA (a caminho de atingir 146 mil milhões de dólares em 2025, contra 14 mil milhões de dólares na Europa), o continente europeu também possui empresas de destaque, tais como a Lovable, ElevenLabs, DeepL, Synthesia e Poolside. A par disso, a italiana Domyn angariou 764 milhões de dólares, incluindo 377 milhões de dólares em financiamento de dívida, para projetos de gigafábricas de IA destinados a serem utilizados na defesa, finanças e manufatura avançada”, destaca o relatório.
O desafio permanece na fase de crescimento, defende a Atomico. A participação das empresas de tecnologia profunda dos EUA que levantam mais de 100 milhões de dólares em rodadas de financiamento excede a da Europa em cinco vezes.
Qual a solução?
O relatório defende um “Pacto Europeu de capital”, que passa por canalizar pensões, seguros e ativos soberanos para financiar a inovação europeia, “expandindo modelos nacionais como Tibi, WIN e Mansion House por toda a Europa”.
Defende também capacitar os europeus para que possam investir as suas poupanças de forma produtiva, responsável e confiante. Uma posição que até tem sido defendida pela Comissão Europeia, no contexto do seu programa de União de Poupança e Investimento.
A Atomico defende um mercado de capitais europeu único e líquido para empresas em crescimento – divulgação harmonizada, liquidez conjunta e cobertura partilhada por analistas para manter os IPO, a propriedade e o valor na Europa.
O relatório revela que “no total, assistimos a quase 1 bilião de dólares em valor realizado com IPOs e fusões e aquisições nos últimos dez anos”.
Fortalecer a cultura de risco como infraestrutura fundamental, tão essencial quanto energia ou capital
A base de inovação da Europa transformou-se na última década, com o número de investidores ativos na região agora em 2.850, comparando com 1.350 em 2016, defende o relatório.
“Os fundadores europeus estão a construir com uma velocidade e ambição sem precedentes. A Europa é o lar da empresa com o crescimento mais rápido de todos os tempos, a Lovable#. refere o documento.
A Atomico diz que 28 empresas já ultrapassaram a marca de avaliação de mil milhões de dólares este ano, o ano mais forte desde 2022, elevando o número total para mais de 400.
O sul da Europa recebeu três unicórnios em 2025, chegando a um total de 25. Um deles é português: a Tekever ultrapassou o valor de mercado de mil milhões de dólares em 2025, tornando Portugal um dos 11 países a produzir novos unicórnios este ano.
O State of European Tech 2025 aponta como desafio a construção de uma cultura que sirva de impulso, e não de travão, para esse talento e inovação. Isto é, ” ir além para reformular o empreendedorismo de forma positiva e defender o risco em investimentos, políticas e aquisições. Por exemplo, apenas 20% das empresas europeias envolvem-se ativamente com startups, comparativamente com 50% nos EUA”.
A Europa investe apenas 9% das aquisições públicas em inovação, comparando com 20% nos EUA. A procura interna tem a ver com dinheiro, mas também com validação. As empresas que se provam junto de outras empresas e governos europeus estão numa melhor posição para vencer a nível global.
Por exemplo, Espanha está a demonstrar o valor comercial desta abordagem: o país capta 5,5% das primeiras contratações de vendas não domésticas por empresas europeias da Série A – o que prova que as startups veem Espanha como uma porta de entrada comercial para o mundo hispano-falante.
O estudo aponta soluções. Assumir o controlo da narrativa e mudar a forma como a Europa fala sobre risco. Investir na narrativa para celebrar a ambição, abraçar o fracasso e o sucesso, e reformular o empreendedorismo e a experimentação de forma positiva.
Adquirir o futuro, que passa por “uma rota rápida, confiável e passível de transferência para startups venderem para compradores públicos e corporativos europeus dispostos a apostar na inovação”.
Por fim, a solução é também tornar a insolvência e a reestruturação mais fáceis, rápidas e justas para que os fundadores possam encerrar, redefinir e recomeçar sem burocracia, estigma ou perda de tempo.
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