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Funeral de Mário Soares teve direito a 84 cavalos da GNR, seis F-16, corveta da Marinha e mil militares

O primeiro funeral em democracia com honras de Estado teve lugar em 2017 quando morreu Mário Soares, exéquias que podem agora servir de guião para o funeral de Jorge Sampaio que vai ter lugar este fim de semana.
  • Cristina Bernardo
10 Setembro 2021, 16h33

O funeral de Mário Soares em janeiro de 2017 foi o primeiro com honras de Estado em tempos de democracia e pode servir de guião para os próximos, tal como o de Jorge Sampaio que vai ter lugar este fim de semana.

O velório deverá decorrer no antigo picadeiro real em Belém, avançou a “SIC Notícias”, com a cerimónia a ter lugar no claustro do Mosteiro dos Jerónimos e o funeral poderá ter lugar no domingo. Contudo, os detalhes ainda não foram revelados publicamente.

O anterior funeral de Estado foi o de António de Oliveira Salazar durante a ditadura em 1970, mas contou com uma cerimónia religiosa, ao contrário do de Jorge Sampaio e do que aconteceu com Mário Soares. Já em democracia, a morte do primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro em 1980 não teve direito a funeral de Estado, apesar do luto nacional.

O Governo já declarou, e o Presidente promulgou, três dias de luto nacional o que “implica que a Bandeira Nacional deve ser içada a meia-haste em todos os edifícios públicos, devendo ser cancelados ou adiados os eventos organizados ou promovidos por entidades ligadas ao Estado”, segundo a Presidência da República.

A nove de janeiro de 2017, o corpo do antigo Presidente da República começou a ser transportado num carro funerário da sua residência para os Paços do Concelho de Lisboa por uma Escolta de Honra motorizada da GNR com 30 motos.

Na autarquia, a urna foi retirada e colocada no armão da GNR, com a família de Mário Soares a entregar aos militares as condecorações atribuídas ao político.

O armão da GNR transportou depois a urna até ao Mosteiro dos Jerónimos acompanhada de uma Escolta de honra com 84 cavalos/guardas.

À chegada, o corpo foi pela Guarda de Honra da GNR, com Estandarte Nacional e Banda de Música, num total de 131 militares.

A urnas e as condecorações foram depois transportadas pela GNR, com 23 militares a postarem Alas de Honra ao longo do percurso.

O corpo ficou em câmara ardente na Sala dos Azulejos no Claustro do Mosteiro dos Jerónimos.

No dia do funeral, da parte da manhã, teve lugar uma sessão solene no claustro do Mosteiro dos Jerónimos com discursos do seu filho, João Soares, e da sua filha, Isabel Soares. O local foi escolhido porque foi aqui, em 1986, que teve lugar a cerimónia de adesão à agora União Europeia por Portugal, onde o então primeiro-ministro Mário Soares esteve presente. O hino nacional foi interpretado pelo coro e a orquestra do Teatro Nacional de São Carlos no início e no final da cerimónia.

Várias personalidades nacionais e internacionais marcaram presença no evento: Felipe VI, rei de Espanha; Felipe Gonzalez, antigo primeiro-ministro de Espanha; José Carlos Fonseca, presidente Cabo Verde; Michel Temer, presidente do Brasil; Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu; José Mário Vaz, presidente da Guiné-Bissau.

Durante o período em que esteve a câmara ardente, a urna foi adornada com um busto da República e as insígnias de Grande-colar da Ordem Militar da Torre e Espada, Valor, Lealdade e Mérito e do Colar da Ordem da Liberdade, segundo a “Euronews”. Aos seus pés, foram depositadas coroas de flores em nome do Presidente da República, do presidente da Assembleia da República e do primeiro-ministro.

No dia do funeral, 10 de janeiro, a urna foi transportada para o Cemitério dos Prazeres, acompanhada de 84 cavalos/militares, tendo passado em frente ao Palácio de Belém, Assembleia da República, Fundação Mário Soares e a sede do PS no Largo do Rato.

Seis aviões F-16 da Força Aérea Portuguesa sobrevoaram o Mosteiro dos Jerónimos no momento em que a urna saia.

À chegada ao Cemitério dos Prazeres, a urna foi transportada por seis militares dos três ramos das Forças Armadas.

Ao longe, no rio Tejo, a corveta “Jacinto Cândido” da Marinha portuguesa disparou uma salva de 21 tiros de artilharia.

O corpo foi depositado no jazigo da família, onde já se encontrava sepultada a sua mulher, Maria Barroso, que morreu em 2015.

As insígnias foram então devolvidas à família de Mário Soares. A bandeira que cobria a urna foi retirada e entregue por Marcelo Rebelo de Sousa aos filhos de Mário Soares.

A sua filha, Isabel, beijou a bandeira quando a recebeu em mãos, como escreveu o “Observador”.

Um total de mil militares estiveram envolvidos nas cerimónias fúnebres, além dos militares da GNR.

Seis militares da Academia Naval, Academia Militar e da Academia da Força Aérea prestaram honras de câmara ardente na Sala dos Azulejos do Claustro do Mosteiro dos Jerónimos.

No dia do funeral, um total de 200 militares dos três ramos das Forças Armadas estava alinhado a 800 metros antes do cemitério, segundo a “Lusa”.

À entrada do cemitério, outro batalhão com 200 militares prestaram as honras fúnebres, guarda de honra com direito a uma salva de tiros, 60 no total.

Três militares foram responsáveis por dobrar a bandeira nacional sob a urna. Já a corveta fundeada no Tejo envolveu outros 100 militares.

“Este foi o primeiro funeral com honras de Estado do período democrático e pode criar um “guião” para os próximos”, disse em janeiro de 2017 a presidente da Associação Portuguesa de Estudos de Protocolo (APorEP), Isabel Amaral.

“No geral, as cerimónias fúnebres de Estado do antigo presidente da república Mário Soares tiveram grande dignidade”, apontando que “haverá sempre uma ou outra crítica, face a um pormenor menos feliz ou a um desacerto ocasional”.

A especialista reconheceu na altura, contudo, que “na organização das cerimónias e na execução do seu programa há sempre imprevistos, problemas que acontecem quando menos se espera”.

 

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