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Fusões e aquisições são um próximo passo “natural” para os bancos portugueses, diz Centeno

O Governador disse à Reuters que Portugal “chegou tarde ao processo de reestruturação do sector bancário que outros países europeus experimentaram, enquanto os bancos portugueses ainda tentavam desesperadamente cortar crédito malparado e fortalecer os rácios de capital”.
  • Flickr/MATT WRITTLE
15 Março 2021, 20h53

Fusões e aquisições são um próximo passo “natural” para os bancos portugueses, pressionados por taxas de juros baixas recorde, disse o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, em entrevista à Reuters nesta segunda-feira.

O Governador disse à Reuters que Portugal “chegou tarde ao processo de reestruturação do sector bancário que outros países europeus experimentaram, enquanto os bancos portugueses ainda tentavam desesperadamente cortar crédito malparado e fortalecer os rácios de capital”.

O crédito malparado detido por bancos portugueses caiu desde então para 5% do total do crédito bancário, face ao pico de 17% em 2016, acompanhado por cortes de dimensão semelhante em sucursais e pessoal. Mário Centeno diz que, “neste período de 2016 e 2017, a banca portuguesa foi a única que consegui captar capital de grande dimensão para o mercado português dos quatro continentes do mundo – Ásia, África, EUA e Europa”.

“É evidente que tendo a necessidade de fazer todas estas transformações, a questão das fusões não tenha sido uma prioridade neste período”, disse Centeno, que também é membro do Conselho de Governadores do Banco Central Europeu, numa entrevista à Reuters.

“É um desenvolvimento de mercado, ele está aí, as taxas de juro baixas é um fenómeno mais recente e põe pressão na rentabilidade da banca enormíssima, não é um fenómeno de 2016 e 2017”, disse Centeno que adiantou que “eu estou confiante que os bancos em Portugal perceberão esse desafio e estarão preparados para lhe dar resposta”.

“Há processos de venda de instituições bancárias a acontecer em Portugal, essa é uma forma de haver este tipo de consolidação, e há estratégias que eu acho que são convergentes entre bancos e que podem levar a esses fenómenos”, frisou o Governador.

O espanhol Abanca desistiu de comprar o controlo da EuroBic, na qual a multi-milionária angolana Isabel dos Santos tenta vender a sua participação de 42,5%, em Julho, mas disse ainda ter interesse em Portugal.

O Governador recordou que “as fusões são um fenómeno de mercado, elas devem resultar de desenvolvimentos de mercado e devem ser vistos com naturalidade”, frisando: “elas são mais prováveis em mercados em que há choques negativos à rentabilidade das empresas (dos bancos)”.
“É uma resposta do mercado à necessidade de haver ganhos, as sinergias, entre instituições quando elas se juntam”, explicou.

“Portanto, eu anteciparia que em Portugal essas fusões aparecessem e fosse desenvolvimentos naturais do mercado”, disse à Reuters Mário Centeno.

O Governador do BdP defende que o fim das moratórias de empréstimos, introduzido no ano passado para ajudar a economia durante a pandemia, não deve causar um salto dramático no crédito malparado.

“Não temos sinais que isso possa acontecer. É um processo que depende muito de como a actividade económica for recuperando ao longo do ano”, afirmou Centeno.

“Em 2020, os rácios de crédito malparado voltaram a cair em Portugal…os bancos portugueses tem um nível de imparização muito grande destes créditos malparados”, disse ainda o responsável pelo supervisor bancário.

Centeno disse que o banco central está a monitorar de perto todos os dados numa base semanal e é muito cedo para dizer se irá revêr a sua previsão de um crescimento de 3,9% em 2021, apesar do primeiro trimestre ser afectado por um novo confinamento.

Sobre política monetária, o Governador revelou que o Banco Central Europeu espera que dados mais positivos nos próximos trimestres confirmem que o montante do seu Programa de Compra de Emergência Pandémica de 1,85 milhões de milhões de euros estabelecido em Dezembro seja adequado.

Centeno disse à Reuters na segunda-feira que o BCE iria ajustar o esquema de impressão de dinheiro, que até agora tem sido “bastante bem sucedido”, numa base mensal para responder aos desafios após novos confinamentos no primeiro trimestre terem amortecido a recuperação na Europa.

“Portanto, a decisão vai ser tomada mensalmente, porque podemos adaptar o montante de base para cima ou para baixo dependendo das condições do mercado”, disse o governador do Banco de Portugal durante a entrevista – a sua primeira após a reunião do BCE na quinta-feira – no Museu do Dinheiro adjacente ao banco central.

No entanto, enquanto os países revêem o crescimento para os últimos três meses de 2020 em alta, o efeito ‘carry-over’ pode compensar parte do impacto económico negativo no início de 2021, disse Mário Centeno.

“Continuamos agora a ter esperança que o segundo e terceiro trimestres provem que a trajectória estava certa, e se isso acontecer, então a decisão que tomámos em Dezembro sobre o montante (PEPP) é apropriada”, disse ele.

“Ninguém contestou isso nos nossos debates” durante o Conselho de Governadores do BCE de quinta-feira, acrescentou, explicando que o BCE permaneceu flexível quanto a esgotar ou não todo o montante.

Centeno avisou que os decisores políticos precisam de ser “humildes” nas suas avaliações e muito depende ainda de novas variantes do vírus e vacinas, tornando as previsões imediatas mais arriscadas do que as projecções para o segundo semestre do ano.

“Estamos bastante satisfeitos com o impacto do PEPP (mas)… a segunda e terceira vagas da pandemia mostram-nos que ainda estamos sob procedimentos de emergência, ainda não fora de perigo, ainda estamos muito longe disso e temos de manter todas as nossas políticas activamente em vigor”, disse ainda

O Governador também apelou a uma rápida aprovação do Next Generation EU, o pacote de apoio da União Europeia de 750 mil milhões de euros, que está a demorar “mais tempo do que gostaríamos”, mas reconheceu que o processo da UE tem de correr o seu curso para obter o máximo efeito benéfico.

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