Escrevi recentemente sobre pequenos projectos que podem criar mudança, e como a interdisciplinaridade pode, e deve, tornar-se um factor relevante para que a mesma ocorra.
Actualmente, Angola enfrenta desafios face à desvalorização do Kwanza, e num país que vive maioritariamente de importações, pagar o dobro ou o triplo para abastecer os mercados faz com que os preços dos produtos disparem.
Existem imensos economistas, opinion makers e estudiosos compondo e digladiando-se para mostrar quem argumenta melhor sobre as razões deste problema. Mas esta que vos escreve tem outro tipo de preocupações, que me levam a indagar o que poderemos fazer num país maioritariamente jovem e no qual as crianças com menos de cinco anos padecem de desnutrição crónica (baixa altura por idade) ou aguda (baixo peso por altura)?
Sem dinheiro e com preços da cesta básica elevados, esta situação periga a vida destes meninos, dado o risco de terem um desenvolvimento deficiente devido à pobreza e ao atraso no crescimento.
Podemos apontar como causas possíveis a baixa escolaridade dos pais ou cuidadores, que não auferem rendimentos suficientes e, consequentemente, têm dificuldade em proporcionar uma alimentação condigna, quando não se verificam situações de maus-tratos e abandono.
Se tivermos em atenção os domínios dos cuidados e a atenção ao desenvolvimento, ao agregarmos estratégias de protecção e segurança, assim como a possibilidade de aprendizagem desde os primeiros anos de vida, estaremos a mitigar os efeitos nocivos das desvantagens na estrutura e função cerebral, ao mesmo tempo que se melhora a saúde, o crescimento e o desenvolvimento das crianças.
De modo a promover a mudança, é de extrema importância que se desenvolvam medidas de apoio e fortalecimento familiar, pois estas permitirão às famílias cuidar dos seus filhos de um modo mais adequado, sendo disso exemplo:
- Acesso a serviços de qualidade (cuidados pré-natais, vacinas, nutrição);
- Desenvolvimento de actividades parentais (que eduquem sobre desenvolvimento e cuidado);
- Apoio / protecção social.
Caso a situação se mantenha, continuaremos a ter indivíduos com poucas possibilidades de virem a tornar-se contribuintes activos para a especialização e mudança que a nossa economia necessita, pois crianças com processos de aprendizagem complexos, devido a um desenvolvimento cognitivo deficitário em virtude de má nutrição, terão dificuldade na aquisição de conhecimentos, assim como na sua operacionalização, reproduzindo as mesmas soluções de subsistência que passam por empregos precários, mal remunerados e com pouca especificidade.
É necessário um cuidado e uma atenção especiais ao futuro das novas gerações, pois, frequentemente, são as que mais sofrem e têm dificuldade em romper o ciclo de pobreza. Espero, assim, que exista um olhar e preocupação que não seja apenas económico, pois até a economia necessita de pujança e trocas comerciais, e isso só é feito de, com e para pessoas.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.