Nos últimos anos, temos ouvido cada vez mais discussões e receios sobre o impacto que a tecnologia está a ter na forma como trabalhamos e nos trabalhos que estão disponíveis.  A verdade é que estas discussões têm, de uma forma ou outra, sido constantes desde a 1ª Revolução Industrial quando surgiu, em 1811, o Ludismo, um movimento contra a mecanização do trabalho com medo da substituição da mão de obra humana. Entretanto os luditas perderam força e (quase) caíram no esquecimento e como se veio a confirmar, a Revolução Industrial aumentou o número de trabalhos disponíveis e não o contrário, melhorando significativamente a qualidade de vida dos cidadãos.

200 anos depois a realidade é muito diferente. Desde a década de 60 que trabalhos rotineiros e/ou manuais têm perdido postos de trabalho mas, em compensação, trabalhos analíticos e não rotineiros têm ganho força. Apesar de ouvirmos dizer, otimisticamente, que no médio e longo prazo todos nós nos iremos dedicar a trabalhos mais criativos, a verdade é que não se prevê uma transição fácil para este tipo de sociedade.

Com a automatização da maioria dos trabalhos (estima-se que entre 30% a 70% dos empregos desapareçam), a criação de riqueza deixará de estar tão associada ao trabalho – um processo que tem acelerado, mas que já começou há muito tempo – e assim passaremos a viver numa sociedade em que o emprego das 9 às 5 deixa de fazer sentido.

Algumas tentativas de prototipar uma sociedade em que os cidadãos não dependem do trabalho e têm muito mais tempo livre estão neste momento em desenvolvimento. Ainda recentemente a Finlândia foi o primeiro país da Europa a pagar um rendimento básico de 560€ mensais a desempregados com o objetivo cortar a burocracia, reduzir a pobreza e fomentar o emprego. O próprio YCombinator (o mais bem sucedido acelerador de startups a nível mundial) anunciou recentemente o lançamento de uma experiência com 100 famílias de Oakland, Califórnia, para testar os impactos de um rendimento básico de 1.000 a 2.000 dólares por mês.

Mas muito mais terá que ser feito. Antecipam-se mudanças radicais na nossa sociedade, sendo que muitas das suas instituições, tradições e rituais deixarão de fazer qualquer sentido. Estamos preparados para o que aí vem? Claro que não! Mas cabe aos governantes, e também aos empreendedores, conceptualizar, estruturar e implementar uma nova sociedade.