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“Ganhámos autonomia junto do supervisor europeu”, disse Miguel Bragança sobre a redução de malparado

O BCP disse aos analistas que ultrapassou as metas do BCE no que toca à redução de malparado. O administrador financeiro do BCP adiantou ainda que o banco precisa de 1,4 mil milhões de MREL, mas tem até julho de 2022 para cumprir os requisitos da autoridade de resolução europeia.
22 Fevereiro 2019, 19h24

Em 2018, o Millennium bcp reduziu o stock de non-performing exposures (NPE) em 2,1 mil milhões de euros face ao final de 2017. Isto é, o banco liderado por Miguel Maya reduziu o crédito malparado em cerca de 28,5%.

Esta redução das carteiras de malparado excedeu os objetivos estabelecidos e acordados entre o BCP e o Banco Central Europeu (BCE). “Na última apresentação que fizemos ao BCE, fixámos a redução de NPE em mil milhões por ano”, esclareceu o chief financial officer do banco, Miguel Bragança, durante a conferência telefónica de analistas, realizada esta sexta-feira.

“Ultrapassámos os objetivos, mas a custo”, frisou. “Mas isso aportará valor para os nossos acionistas”.

Questionado sobre a possibilidade do banco – e capacidade – em acelerar a redução das carteiras de NPE, Miguel Bragança esclareceu que o BCP demonstrou “capacidade junto do supervisor europeu” no que diz respeito à redução do crédito malparado. “Isto dá-nos autonomia, embora o BCE prefira que BCP reduza mais a carteira de NPE”, disse. No entanto o banco “tem margem para acelerar a redução do malparado”, salientou Miguel Bragança.

Instado a esclarecer o tipo de operações que balizaram as vendas de carteiras de malparado e o preço médio de venda, o CFO explicou ainda que o BCP consegue aportar mais valor aos acionistas realizando “transações pequenas e segmentadas” e que se enquadrem às especificidades de cada investidor. Em média, as operações situaram-se entre os “100 a 150 milhões de euros”, disse Miguel Bragança.

Ainda assim, o CFO disse que o banco não fecha os olhos a uma operação de maior valor. “Tudo depende dos números”, frisou.

O impacto da venda de NPE na margem financeira foi outra das perguntas colocadas pelos analistas. O CFO explicou que nestas operações há que separar o crédito “que já está em default e o que tem elevadas probabilidades de não ser pago ”. O primeiro abrange os casos em que os devedores [empresas] já não pagam juros sobre o financiamento, por estarem em incumprimento, “ e a venda desses créditos tem um custo de oportunidade ‘zero’”, uma vez que não tem impacto na margem financeira, esclareceu Miguel Bragança. Isto é, a venda da carteira de crédito efectivamente em incumprimento não traz uma quebra na margem financeira.

Mas, no segundo caso, uma vez que os devedores ainda estão a pagar juros, as vendas de carteiras de NPE têm impacto na margem financeira.

Neste ponto, enquanto indicador do impacto da venda de malparado na margem financeira, uma vez que a maior parte foi de créditos concedidos a empresas, e a venda somou um total de 600 milhões de euros, o CFO do banco indicou que os juros desses créditos rondam os 3,3%, o que permite ter uma ideia do impacto estimado na receita de juros, com a saída desses créditos do balanço do banco.

BCP a 1,4 mil milhões de cumprir critérios de resiliência impostos regulador europeu (MREL)

O BCP está confortável no cumprimento da meta de MREL, imposta pela autoridade de resolução europeia, que obriga que o balanço dos bancos seja suficientemente resiliente para absorver perdas ou, no pior caso, fazer face a uma eventual resolução do banco.

Em resposta aos analistas, os gestores do BCP disseram que o banco tinha uma diferença de 1,4 mil milhões de euros face ao requisito de MREL no capital do BCP imposto pela autoridade europeia.

Se esta ocorresse ao dia de hoje, entre os ativos elegíveis para MREL, que o BCP dispõe atualmente e aqueles que necessitaria, “há uma diferença de 1,4 mil milhões de euros”, disse o CFO do BCP, Miguel Bragança, numa conferência com os analistas.

O BCP tem até julho de 2022 para cumprir esta meta, logo faltam cerca de três anos e meio. Até lá, o BCP vai continuar a gerar resultados (capital) e/ou emitir dívida subordinada (Tier 2) e dívida sénior, que poderá ser preferred ou non-preferred (isto é, obrigações seniores que na hierarquia de credores, são as primeiras a sofrer perdas).

Em janeiro de 2019 o BCP emitiu dívida perpétua (additional Tier 1) no valor de 400 milhões de euros, e pagou juros de 9,25%.

O MREL protege os depósitos, uma vez que foi desenhado para que os acionistas e credores de um banco resolvido suportassem a maior parte das perdas.

Para efeitos de MREL, os ativos e passivos de um banco a ter em consideração consistem no capital, additional tier 1, tier 2 e dívida sénior, que pode ser preferred  ou non-preferred.

Custos operacionais

O BCP tem como objetivo atingir um rácio de cost-to-income, que mede a eficiência do banco, em 40%, até 2021. Para atingir este objetivo, parte da estratégia do BCP passa pela digitalização do banco, disse Miguel Bragança.

No entanto, a digitalização do banco obrigará a um investimento inicial pelo que os custos operacionais poderão crescer no curto-prazo. Mas a estratégia terá benefícios na redução de custos no longo-prazo.

Participaram na conferência, além dos analistas dos bancos, incluindo Goldman Sachs, CaixaBank BPI, e Deutsche Bank, estava Miguel Bragança; o CEO do BCP, Miguel Maya; e o Head Investor Relations, Rui Coimbra.

(atualizada)

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