(Resisto à tentação de escrever sobre Robles, convencida que se trata de um episódio de uma série, servida como se de uma telenovela se passasse, onde os principais vilões escapam ao largo. Robles será esquecido mas a factura do que outros andaram a fazer continua a chegar a nossa casa, sem que a atenção mediática se foque – também – neles. Não pretendo com tal justificar o seu comportamento até porque me parece evidente a incoerência entre o que defendeu e o que fez. Não obstante, há coisas mais graves a acontecerem no país e nunca gostei de ver bater em pessoas já no chão.)
Em rota para a silly season, entre conselhos de dietas fabulosas – que operarão um milagre nos próximos cinco dias que nunca se realizou dos anteriores trezentos – e os anúncios das tristemente habituais mortes de crianças em piscinas, encontro, justamente nas páginas do Económico, as notícias de que faltam médicos no Algarve e que a MAC, outrora bandeira de uma certa resistência à austeridade de Passos Coelho, se encontra em situação de ruptura. No mesmo passo, o contexto da greve dos professores foi completamente ignorado, apenas se passando a ideia de que as consequências da mesma eram injustificadas.
Ora, quem tenha o mínimo de interesse pelas notícias do nosso país e perca tempo a vê-las, quase que acredita que estamos numa qualquer época dourada, das antigas vacas gordas, em que ninguém se importava de destruir meios de produção na perspectiva do subsídio rápido, esquecendo-se que o dinheiro é das coisas mais perenes que existem. Por algum motivo que me escapa, e sendo certo que os tempos são melhores, a verdade é que não está tudo bem num país que joga todas as fichas num sector tão volúvel quanto o turismo e onde o preço do combustível é tão alto e curiosamente tão coincidente nas estações de serviço das auto-estradas.
Que o Governo tente fazer-nos crer que vivemos uma altura fantástica não surpreende. Que as agências de comunicação pagas o façam também se percebe. Que a maior parte da comunicação social aceite acriticamente um belo quadro, que não resiste à primeira chuvada, já é mais estranho. Por último, que todos nós, bem dispostos pela tardia chegada do Verão, aceitemos o que nos põem à frente, sem mais, acreditando numa paz social que não existe é, uma vez mais, um erro. E os erros, já devíamos saber, revelam-se depois mas pagam-se caros.
Num mundo onde, cada vez mais, o que importa é (a)parecer, tal como referia a Maggie no filme que serve de título a esta crónica, a maior vitória de todas é conseguir aguentar-se lá. Neste caso, sem adoecer, engravidar ou até, pela náusea que tanta cosmética causa, vomitar. De preferência, lendo um livro. Aquele de que conseguimos usufruir porque alguém perdeu o seu tempo a ensinar-nos.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.