Rafah, o último refúgio dos palestinianos em Gaza, está a ser invadida e atacada pelo exército israelita, em mais um ato criminoso numa longa lista de crimes. Têm sido 200 dias de bombardeamentos contínuos e matança indiscriminada.

A ofensiva israelita em territórios palestinianos há muito que deixou de ser sobre os reféns capturados pelo Hamas. Tornou-se uma guerra pessoal, vindicativa, de uma absoluta crueldade, com o intuito de controlar os territórios e fazer o que for necessário para acabar com o Hamas. Mas, para eliminar o Hamas, o governo de Netanyahu decidiu não olhar a meios para atingir fins e ceifar milhares de palestinianos, e sujeitá-los a uma limpeza étnica.

São palavras fortes que não devem ser usadas de forma ligeira, mas, sete meses depois, é indescritível o nível de chacina e de polarização extrema em torno da questão israelo-palestiniana nos média e nas redes sociais. É um campo de batalha que divide ferozmente tudo e todos, mas está na altura de tomar partido com firmeza.

Israel pode continuar a usar os argumentos do antissemitismo, mas caem por terra face às contínuas recusas de um cessar-fogo. As famílias dos reféns imploram para que seja acordado um cessar-fogo, mas não há boa-fé por parte de Israel nas negociações. Os Palestinianos estão isolados e sem assistência humanitária, os jornalistas estão a ser expulsos e o mundo finge que não assistimos ao fim de toda a decência humana. Basta ler as mensagens do Secretário-Geral das Nações Unidas, que continua a descrever os horrores que se descobrem todos os dias.

Mas nem todos escolhem o silêncio e a indiferença. Manifestações estudantis nos EUA surgiram nas notícias por serem alvo de repressão e detenções, com o uso de força desproporcional. É com orgulho que vemos crescer estes protestos por todo o globo, marcando uma divisão política e social muito clara que irá ser determinante nos próximos anos e atos eleitorais. O fracasso da presidência Biden perante esta ignomínia lembra-nos que a linha que divide democratas e antidemocratas por vezes é irrelevante. Se pactuarmos com o diabo, não há direitos humanos que resistam.

Mas não é só no outro lado do Atlântico que assistimos a um branqueamento total. Festivais como a Eurovisão tentam seguir em frente como se tudo estivesse na mesma e, felizmente, não têm faltado vozes a denunciar a hipocrisia e o silenciamento.

Gaza tornou-se a grande questão do nosso tempo. Daqui em diante, será sempre Gaza que iremos recordar e que irá determinar tudo. Nada pode ficar na mesma depois de Gaza.