O estrategista de mercados emergentes da Generali AM, Guillaume Tresca, considera que apesar da “resiliência” demonstrada no primeiro trimestre, a atividade dos mercados emergentes será afetada pelas “novas tarifas dos Estados” através da exportação e da incerteza.
No entender de Guillaume Tresca a Ásia deve ser a região “mais vulnerável” e a América Latina a “menos afetada”.
Contudo, diz o estrategista da Generali AM, os fundamentos macroeconómicos dos mercados emergentes “são sólidos e os bancos centrais têm margem de manobra”.
Neste contexto Guillaume Tresca salienta que a Generali mantem uma “abordagem defensiva” e uma postura neutra ao nível da dívida externa vs dívida local.
“Para a dívida externa, revimos em alta a nossa previsão de spread e preferimos o Investment Grade em vez do High Yield“, diz Guillaume Tresca.
“Para a dívida local, preferimos as taxas dos mercados emergentes em vez das taxas de câmbio. Os níveis de rendimentos reais são ainda atrativos e os bancos centrais podem flexibilizar as taxas na Ásia e na Europa Central e Oriental, se necessário. Em termos de câmbio, estaremos underweight em termos do peso alocado às moedas asiáticas preferindo as moedas da Europa Central e Oriental”, adianta o estrategista da Generali.
Guillaume Tresca diz ainda que após um período de “relativa resiliência” desde a tomada de posse de Donald Trump o crescimento dos mercados emergentes “será desafiado pelas novas tarifas” dos Estados Unidos, que no entender do estrategista “afetarão todos os mercados emergentes” embora com impactos diferenciados.
“É demasiado cedo para avaliar com precisão o impacto no crescimento, dado o risco de novas retaliações ou mesmo o espaço de negociação para determinados países (México), mas é evidente que o crescimento se irá ajustar”, considera Guillaume Tresca.
O estrategista da Generali AM acrescenta que o crescimento dos mercados emergentes “sempre dependeu” do comércio global, adiantou também que tal como em 2018/2019, “haverá um declínio do comércio global, prejudicando as exportações” dos mercados emergentes.
“O elevado nível de incerteza no próximo trimestre limitará, pelo menos, o sentimento empresarial e o investimento, uma vez que as questões sobre a posição da cadeia de abastecimento prevalecerão”, salienta o estrategista da Generali AM.
Apesar deste novo ambiente económico Guillaume Tresca diz existirem pelo menos três pontos positivos.
“Em primeiro lugar, os fundamentos macroeconómicos dos mercados emergentes são mais sólidos do que durante a primeira guerra comercial em 2018/2019, com vulnerabilidades externas limitadas e ainda espaço fiscal para os principais mercados emergentes”, salienta Guillaume Tresca. “A inflação continuou a descer, e os bancos centrais dos mercados emergentes ainda têm margem para flexibilizar ainda mais a política monetária. Em segundo lugar, felizmente, o enfraquecimento do dólar norte-americano dar-lhes-á ainda mais espaço do que numa liquidação tradicional do mercado, quando uma maior aversão ao risco leva à fraqueza da taxa de câmbio dos mercados emergentes”, reforça o estrategista da Generali AM.
“Em terceiro lugar, desta vez, os mercados emergentes estão a negociar mais entre si, com cerca de 60% das exportações dos mercados emergentes a irem para outros países emergentes. A regionalização é profunda, sobretudo na Ásia”, diz Guillaume Tresca.
A Generali AM salienta que espera uma “diferenciação crescente” entre os vários mercados emergentes, a com a Ásia a ser a “mais afectada”.
Guillaume Tresca sublinha que a Ásia tem “tarifas acima dos 20% e exporta mais de 15% das suas exportações para os Estados Unidos. O estrategista considera que os bancos centrais asiáticos “têm sido conservadores” apesar de terem “muita margem para flexibilizar” as suas políticas.
“Os países da Europa Central e Oriental, Médio Oriente, e África (CEEMEA na sigla em inglês) beneficiarão da sua relativa integração na cadeia de valor da União Europeia e da sua menor exposição direta às exportações para os Estados Unidos. Os países da América Latina são mais imunes, uma vez que o México beneficia do acordo entre Estados Unidos, México e Canadá (USMCA na sigla em inglês) para determinadas exportações e as exportações do Brasil para os Estados Unidos são limitadas. Existe o risco de um impacto secundário nas exportações de minerais do Chile e do Peru para a China se a China abrandar significativamente”, diz o estrategista.
Guillaume Tresca acrescenta que os retornos de rendimento fixo dos mercados emergentes “foram resilientes” no primeiro trimestre e que durante a “recente liquidação induzida pelas tarifas, os retornos foram positivos devido a um efeito de duração favorável”.
Para o estrategista este desempenho “será difícil de sustentar e só acontecerá” se as taxas de juro dos Estados Unidos “não recuperarem e a atual desaceleração do crescimento dos Estados Unidos não se transformar numa recessão”. Devido a estes fatores a Generali mantém uma “abordagem defensiva” e uma posição neutra na dívida externa vs dívida local.
“A dívida local dos mercados emergentes revelou-se mais resiliente do que o inicialmente esperado. De facto, uma característica particular do ambiente recente tem sido o enfraquecimento do dólar norte-americano, o que beneficiou fortemente a taxa de câmbio dos mercados emergentes, mas a sua contínua fraqueza também continua a ser uma hipótese forte”, explica o estrategista da Generali AM.
No que diz respeito à dívida externa a Generali mantém a preferência por Investment Grade de mercados emergentes em vez de High Yield. “O impacto direto das taxas sobre o crédito dos mercados emergentes é limitado, mas o crédito dos mercados emergentes é afetado principalmente pelos mercados de risco mais amplos e, especialmente, pelo alargamento do spread de crédito dos Estados Unidos”, adianta Guillaume Tresca.
Guillaume Tresca acrescenta que se tem assistido a “alguma descompressão do spread recentemente” alertando que existe de se ver mais esse cenário se a expansão do crédito nos Estados Unidos “continuar a expandir-se”.
O estrategista sublinha que ainda “não estamos em níveis recessivos de spread” dos mercados emergentes e, “dados os níveis históricos apertados, os investidores podem preferir esperar por melhores pontos de entrada”. Levando isso em consideração a Generali vai aumentar as suas previsões de spread em 35 pontos base.
“Ao nível da classificação, preferimos o Investment Grade em vez do High Yield. O Investment Grade dos mercados emergentes tem sido superior ao High Yield dos Estados Unidos, enquanto que o High Yield dos mercados emergentes é caro tanto historicamente como em relação ao crédito dos Estados Unidos”, sublinha o estrategista.
No que diz respeito ao Investment Grade, Guillaume Tresca refere que a ampliação do spread “será mais limitada e o impacto no retorno total final poderá ser parcialmente compensado pelo declínio das taxas” dos Estados Unidos.
“Gostamos mais do Chile do que do Peru, dos Emirados Árabes Unidos e da Bulgária, que podem entrar na zona euro em 2026. Em High Yield evitamos notações B e em dificuldades que irão descomprimir e onde as posições estão sobrelotadas. Concentramo-nos em notações BBs onde os fundamentos estão a melhorar. Marrocos oferece valor, continuamos a gostar da Sérvia, enquanto a região dos Balcãs Ocidentais oferece um bom risco/recompensa a longo prazo”, salienta o estrategista.
A Generali aconselha a que se dê “preferência” às taxas de juro dos mercados emergentes “em detrimento” das taxas de câmbio dos mercados emergentes.
“Preferimos as taxas dos mercados emergentes, pois os bancos centrais, especialmente na Ásia, têm margem para flexibilizar. Mesmo na Europa Central e Oriental, a dinâmica da inflação permite uma flexibilização, enquanto na América Latina, especialmente no México, as taxas reais ainda são elevadas. No Brasil, problemas fiscais e expetativas de inflação mais elevadas limitam o âmbito para a flexibilização. Em termos de câmbio, teremos uma posição inferior aos títulos asiáticos, dada a sua sobre-exposição ao impacto tarifário, e preferiremos os títulos da Europa Central e Oriental suportados pela nova postura fiscal alemã e os títulos de alto rendimento, como a lira da Turquia e a libra do Egito. Na América Latina, mantemos a nossa preferência pelo real brasileiro em vez do peso mexicano, mas é menos atraente. Evitámos o peso chileno e a moeda peruana devido aos riscos de desaceleração na China e à exposição às commodities“, finaliza o estrategista.
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