As tentativas dos ditos coletes “amarelos” não foram apenas a mimetização oportunista das manifestações francesas da mesma cor contra Macron. Longe na dimensão, elas partilham claras similitudes formais. A “inorganicidade” do movimento, o uso das redes sociais, a junção de reivindicações e palavras de ordem díspares, apropriando-se de algumas de esquerda e do movimento laboral (o aumento do SMN, a defesa do SNS). E a par da clara presença e instrumentalização da extrema-direita, surgem as generalizações abusivas sobre os políticos e os partidos, os custos dos deputados/Assembleia da República – daí a reivindicação da sua redução a metade – as teses da classe política e das elites corruptas.

Não é novidade a manipulação e instrumentalização das classes populares e o uso manipulatório da semântica para confundir e agarrar. As forças hitlerianas dirigiram não poucos esforços para ganhar posições sindicais nas fábricas e influência nas massas trabalhadoras, e juntaram ao nacionalismo, a palavra socialismo.

É certamente necessária lucidez política na abordagem destas movimentações, percebendo as razões para insatisfações e descontentamentos aproveitados agora, mas semeados por quatro décadas de política de direita, apenas aliviadas, parcial e de forma insuficiente, nos últimos três anos.

Mas há que denunciar os que, nomeadamente na comunicação social dominante, foram semeando as ervas daninhas, que agora brotam. Nas generalizações abusivas na apreciação do fazer política e do agir dos políticos. Na focagem e absolutização das causas dos problemas do país no sistema político constitucional, nomeadamente no sistema eleitoral. No empurrar para alterações do sistema, as respostas e soluções. Na permanente e propositada confusão de alternância (de governantes e/ou partidos no governo) com alternativa política. Na forma acrítica e abstrata como avaliam o funcionamento e o financiamento dos partidos, como avaliam o trabalho dos deputados, dos grupos parlamentares, sempre metendo tudo e todos no mesmo saco.

A autêntica caça às bruxas feitas ao movimento sindical, aos sindicalistas, particularmente aos quadros sindicais que se destacam por muitos anos de fidelidade às lutas das suas classes profissionais, castigados com uma maledicência sistemática e corrosiva.

Ver o entusiasmo com que aplaudem os ditos movimentos “inorgânicos” e “espontâneos”, aliás sempre colaborando afanosa e diligentemente na propaganda e multiplicação das suas iniciativas. Sempre glorificados em nome da ausência do PCP e da CGTP! Ver as múltiplas e amplificadoras coberturas jornalísticas sobretudo televisivas e comparem-se com o que se noticiou e mostrou (televisões, rádios, jornais) das últimas manifestações da CNA e da CGTP em Lisboa.

Continuem, mas depois não se queixem. Os coletes amarelos generalizam… mas cobram muitos anos de pregação generalista em cima de políticos e partidos, de sindicalistas e sindicatos. O que não significa, nem pode confundir-se com a falta de escrutínio crítico de toda vida política e social e dos seus principais agentes.