É inútil dizer “estamos a fazer o possível”. Precisamos de fazer o que é necessário, Churchill

(À laia de disclaimer, confesso ter uma relação de amor-ódio com a TAP. Reclamo quase sempre mas, na hora de reservar, acabo sempre por escolher as nossas cores. Comecei a viajar na TAP há 43 anos, em direcção a Porto Santo, e sempre pensei terminar a minha vida a fazer exactamente o mesmo. Vistas as medidas propostas, ainda que superficialmente, a sensação que tenho é que querem acabar com ela.)

Qualquer português informado sabe que a discussão sobre a TAP é cíclica mas que, nos últimos anos, o tom tem crescido. Sob o espectro da pandemia, cujas consequências sobre a companhia são evidentes, o que agora se anuncia são milhares de despedimentos, diminuição de rotas e alienação de aviões. Estaria tudo eventualmente certo não fosse serem os mesmos núncios que tomaram decisões ruinosas para a TAP a fazerem tais comunicações, uma vez mais na lógica de que, quando tudo corre bem, os lucros são para os accionistas e, quando não corre, os despedimentos são para os trabalhadores e os prejuízos para os cidadãos.

Para os menos atentos, há décadas que a TAP faz negócios ruinosos, seja com uma aventura nunca explicada na antiga VARIG no Brasil (só explicada por amizades que o então Presidente do Conselho de Administração ali tivesse), seja com parcerias que apenas beneficiavam os outros outorgantes, como foi o caso mais recente da AZUL ou das companhias satélites que voam em nome daquela.

Por mais que nos atirem à cara os prejuízos da TAP como forma de virar a opinião pública contra os trabalhadores e justificar o que aí vem, o esforço que devemos fazer é, essencialmente, de memória. Desde logo, não foram estes que pensaram, executaram e ganharam com tais negociatas. Depois, uma companhia aérea pode sobreviver sem administradores mas é impossível manter-se sem aviões e pessoal (cujos custos do despedimento e, já agora, das prestações de desemprego recairão sobre os mesmos que se queixam de suportar os seus salários).

Não nego que a TAP precise de uma restruturação, de analisar rotas e verificar se necessita dos aviões comprados, por motivos que um dia se saberão, a mando do Senhor Neeleman e, até, de reduzir a sua estrutura. Sucede que, ao contrário do anunciado, eu começaria por cima, por aqueles que se sentam em vários conselhos de administração, permitindo que tal sucedesse. E, por uma vez na vida, em vez da nossa tão habitual bonomia, antes de sacrificar inocentes, iria atrás dos verdadeiros responsáveis. Na TAP, como no Novo Banco, no BPN ou em tantos outros, fazer o possível já não serve. Trata-se de fazer o necessário e o justo.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.