De todas as transformações que o mundo do trabalho tem vivido nas últimas décadas, talvez nenhuma tenha sido tão subtil e, simultaneamente, tão disruptiva como a chegada da Geração Z às organizações. Filhos de um tempo acelerado, hiperconectado e permanentemente em mutação, estes novos profissionais parecem questionar – e com razão – muito daquilo que, durante anos, foi considerado “natural” no universo laboral.

O trabalho, outrora símbolo máximo de realização e identidade (sobretudo para os baby boomers), perdeu a centralidade que detinha. Para a Geração Z, o trabalho é visto, preferencialmente, como um meio – e não um fim em si mesmo. Serve para sustentar um estilo de vida equilibrado e de desenho unipessoal, proporcionar experiências significativas e garantir espaço para o lazer, a liberdade e a autenticidade. Não se trata de rejeitar o valor do trabalho, mas de redefinir o seu lugar na hierarquia das prioridades humanas.

O culto do “trabalhar muito” deu lugar ao culto do “trabalhar bem” – e, se possível, em menos horas. A jornada de dez horas diárias já não é um troféu de dedicação, mas um sintoma de desajuste. A fronteira entre vida profissional e pessoal tornou-se inviolável: os e-mails fora de horas são vistos como intrusões e não como demonstrações de empenho. Não é descomprometimento. É autocuidado.

Esta geração, que cresceu com o mundo à distância de um clique, tende a valorizar mais as experiências do que a posse de bens materiais. O automóvel, outrora ícone de independência, é substituído por aplicações de mobilidade. O escritório, símbolo de estatuto, dá lugar ao regime híbrido, onde a liberdade de escolher onde e quando produzir se tornou essencial. O relógio de ponto cedeu espaço à gestão por objetivos e à confiança.

Paradoxalmente, esta procura de autonomia não implica afastamento das chefias. A Geração Z quer liberdade, sim, mas também proximidade – através de feedback frequente, reconhecimento genuíno e lideranças que saibam comunicar propósito e escuta ativa. O silêncio (e distanciamento) hierárquico, antes sinal de respeito, passou a ser sinal de desinteresse.

A sua lógica é simples e coerente: se o trabalho ocupa boa parte da vida, então deve valer a pena vivê-lo com sentido, propósito e prazer. Como proposta de integração e desenvolvimento desta nova cultura laboral, destaco sete princípios fundamentais para as organizações que desejem compreender – e não apenas tolerar – a Geração Z:

Flexibilidade real, não simbólica: permitir horários ajustáveis e locais de trabalho escolhidos em função da produtividade e do bem-estar, e não do controlo.

Propósito claro e comunicável: cada função deve ligar-se a um “porquê” maior, visível e sentido.

Feedback contínuo e construtivo: substituir a avaliação anual por conversas regulares que orientem, reconheçam e inspirem.

Autonomia acompanhada: dar espaço para decidir e criar, sem abdicar da confiança e da orientação mútua.

Equilíbrio sustentável: respeitar o descanso, o direito a desligar e a vida pessoal como componentes legítimas da performance.

Desenvolvimento significativo: investir em aprendizagens práticas e experiências transformadoras, mais do que em formações padronizadas.

Liderança humanizada: líderes que saibam escutar, adaptar-se e comunicar com empatia, sem abdicar da coerência, da clareza e do foco na produção conjunta de valor.

Em síntese, aquilo que para alguns parece uma crise de valores ou um declínio do compromisso laboral é, na verdade, um movimento evolutivo: a busca por um novo contrato psicológico entre pessoas e trabalho.

A Geração Z não rejeita o trabalho – apenas se recusa a ser definida por ele. E, nesse gesto de afirmação, lança-nos um desafio coletivo: repensar o que realmente significa trabalhar para viver, e não viver para trabalhar.