Trabalhar remotamente a partir de casa foi um constrangimento imposto no início do ano corrente pela pandemia Covid-19 a um grande número de trabalhadores que abruptamente tiveram de se reinventar para transformar o seu desempenho e garantir o funcionamento das suas empresas.

Embora já existisse antes da crise pandémica alguma reflexão sobre a opção pelo trabalho designado de remoto, à distância, ou a partir de casa, constata-se na atual fase de regresso ao “novo normal” a tendência para algumas empresas e alguns trabalhadores aceitarem uma utilização mais extensa desta forma de organização do trabalho.

Admitindo as potencialidades e limitações associadas ao trabalho remoto, esta reflexão visa identificar, do ponto de vista da gestão de pessoas, alguns elementos críticos a equacionar na implementação sustentável desta opção, estruturada em torno de numa análise multinível integrando: 1) a organização no seu conjunto e as funções a realizar; 2) o funcionamento das equipas; e 3) o comportamento dos indivíduos.

1. Ao nível global da organização e das funções a concretizar, as opções pelo trabalho remoto devem equacionar:

  • A clareza das decisões e o seu alinhamento com as opções estratégicas do negócio;
  • A adequação face aos valores dominantes da cultura organizacional;
  • A perceção de colaboradores e clientes sobre a credibilidade, aceitação e impacto destas decisões;
  • A análise das (im)possibilidades de realização do trabalho fora do espaço empresarial;
  • A maior ou menor exigência na definição de conteúdos, processos e interdependências do trabalho, inerentes ao desempenho das funções;
  • A justiça e equidade nas oportunidades de desenvolvimento e de progressão nas carreiras dos trabalhadores em regime presencial e à distância.

2. Ao nível do funcionamento das equipas, as decisões sobre o trabalho remoto devem perspetivar:

  • A promoção de um clima de confiança e segurança psicológica que possibilite a visão partilhada de que a equipa é um contexto seguro no qual se podem assumir riscos, realizar aprendizagens e empreender inovações.
  • A interdependência entre os vários participantes e as dinâmicas específicas dos seus contributos para concretizar trabalho colaborativo e atividades conjuntas;
  • A existência de lideranças sedutoras e competentes na promoção do engagement das equipas, garantindo soluções que integrem e mobilizem trabalhadores presenciais e remotos.
  • A organização de atividades e eventos conjuntos que promovam e consolidem coesão, identidade e entreajuda da globalidade dos trabalhadores.

3. Ao nível do comportamento individual, as opções sobre trabalho remoto devem ponderar:

  • A análise das circunstâncias pessoais de cada trabalhador, equacionando as suas necessidades de conciliação entre trabalho e família, assim como as condições de deslocação para a empresa, de conforto habitacional e de acesso a recursos tecnológicos adequados à qualidade do trabalho realizado a partir de casa;
  • A aposta nos pontos fortes, na qualidade do desempenho, no feedback contínuo e no potencial de desenvolvimento dos trabalhadores;
  • A promoção de condições de trabalho que assegurem conforto, segurança e bem-estar físico, psicológico e social.

Em conclusão, salientamos o papel determinante da gestão e das lideranças na criação de contextos de trabalho que integrem diversidade, apoiem, autonomizem e desenvolvam, promovendo engagement, excelência e qualidade de vida dos trabalhadores, independentemente de estarem em regime remoto ou presencial.