Uma das grandes pechas de Portugal é a qualidade da gestão das suas organizações. O problema é tão vasto que essa falta de qualidade é notada tanto no sector público como no sector privado. Sim, ao contrário do que muitos pensam, esta não é uma falha intrínseca ao sector público. No sector privado encontramos inúmeras empresas mal geridas e que vão sobrevivendo (desde micro a grandes empresas).

Na realidade, as boas práticas de gestão não nascem de geração espontânea, nem como consequência inevitável de ambientes competitivos. São, antes, fruto da vontade das lideranças organizacionais e dos ambientes legislativos e culturais existentes.

Portugal, com o seu passado estragado pela Inquisição e pela ditadura, tornou-se um local muito pouco propício a que floresçam bom gestores. O mal começa logo em casa, passa depois pela escola (até à universidade) e continua nos ambientes laborais, sejam privados ou públicos.

A subjugação deste país às lógicas medievais do Direito Coimbrão (que depois se espalhou país afora) criou um caldo cultural de barroquismo legal, de seguidismo e de temor reverencial que são incompatíveis com uma gestão de qualidade. Esses mecanismos arcaicos penetraram toda a sociedade portuguesa, pois ficaram encrostados na psique, logo, nos comportamentos dos indivíduos.

A partir daí, é lógico que nasçam culturas empresariais de dependência (de empresas vivendo à custa do Estado e de trabalhadores sem iniciativa para não afrontarem os patrões) e processos de inveja, “capelinhas”, bajulação sabuja, nepotismo e corrupção.

Nas organizações públicas, toda essa lógica é repetida com expoentes de burocracia e de imobilismo associados à perenidade do Estado. Esse é também o caldo cultural da aversão ao risco, do localismo e da relutância pela mudança e inovação. Mesmo com a transição para a democracia, este legado cultural foi permanecendo. É que é muito mais fácil fazer uma revolução política do que uma revolução cultural.

A integração na União Europeia e nos processos de globalização mais actuais, está, finalmente, a introduzir mudanças bem-vindas, no sentido do cosmopolitismo, da inovação e de culturas de aprendizagem e respeito horizontal (e já não tanto vertical). Mas muitos males permanecem.

Os casos das PPP leoninas em benefício dos privados, das grandes empresas privatizadas protegidas da concorrência (PT, EDP) ou da promiscuidade Banca-Estado (BES, BPN, CGD) são exemplos claros de má gestão pública e privada que nos têm custado milhares de milhões.

Por isso, têm que ser as gerações mais novas, com outras referências mentais, a tomar conta deste processo. Mas, para isso, têm que aceder aos cargos de poder. Quer na política, que nas empresas. E esse processo tem sido lento.

A verdade é que só com gestão de qualidade podemos almejar a ter instituições bem funcionantes, produtivas e que recrutem e retenham os seres humanos de maior competência e qualidade.

Quando temos as universidades portuguesas a desperdiçarem quase todas as gerações sub-40 deste país, ou empresas pequenas e médias que não têm lugar para essas mesmas pessoas novas e qualificadas, percebemos a fuga de cérebros e a fuga dos mais novos para as paragens onde lhes dão valor.

Fundamental, também, é não confundir gestão de show-off com boa gestão. Uma parte das organizações portuguesas que se arrogam de ter boa gestão, não a têm de verdade. É que gerir bem não é entrar em processos de novo-riquismo produtivista, em que se exige que os trabalhadores trabalhem 12 horas por dia para que a organização, seja pública ou privada, exiba elevadas produções trimestrais, mesmo à custa da exaustão humana.

Boa gestão é aquela que tem boa produtividade respeitando as pessoas, promovendo o florescimento humano, dando incentivos à autonomia e à criatividade, tempo para as pessoas terem família e lazer e providenciarem ordenados decentes – através de uma boa distribuição dos ganhos entre lucros e massa salarial e, dentro dos salários, não ter as pornográficas desigualdades salariais entre gestores e demais colaboradores, que tantas empresas actuais ostentam.

Uma verdadeira boa gestão no século XXI será aquela que consiga criar organizações dinâmicas, respeitadoras dos direitos humanos, criadoras de inovação, compatíveis com a sustentabilidade ambiental e contribuintes líquidos para a felicidade humana.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.