A gestão de risco tem sido, nos últimos anos, apontada como um factor chave na execução da estratégia de uma organização e prossecução do seu objectivo de criação de valor. Os eventos inesperados dos tempos que correm, a pandemia Covid-19 e a guerra na Ucrânia, vieram, no entanto, desenvolver um novo estado de alerta entre os gestores. Deparamo-nos com uma alteração no paradigma da gestão de risco e em particular na percepção e medição dos diferentes tipos de risco em que uma organização incorre.
A medição do risco como uma medida meramente estatística deixou de fazer sentido, necessitando-se de uma abordagem holística que compreenda, não apenas medidas, estatísticas ou não, com base em informação passada, mas uma profunda análise de contexto, avaliando potenciais eventos inesperados, como os que se verificaram nos últimos anos, e suas consequências, mas também novos conceitos de risco e métricas introduzidas no, e pelo, mercado, cada vez mais escrutinados pelos stakeholders, em que se incluem, por exemplo os riscos ambientais, sociais e de governance.
A construção de organizações resilientes com um apetite de risco bem definido e capacidade de resposta ágil aos riscos incorridos, mostra-se assim fulcral para a construção de uma base de criação de valor sustentável de longo prazo, sendo a questão primordial como proceder para garantir que uma organização é capaz de responder a algo que não conhece ou prevê.
As organizações, e em especial os gestores de risco e órgãos de governo das sociedades, de todos os sectores e ramos de atividade, deparam-se com o enorme desafio de executar uma análise de cenários com atualizações permanentes e inesperadas, e de implementar oportunamente o mecanismo de resposta aos diferentes cenários.
Hoje deparamo-nos, no entanto, com uma conjuntura complexa para esse difícil exercício de análise de cenários e previsão. As políticas monetária e fiscal expansionistas adoptadas desde a crise financeira global, e as medidas de apoio à economia implementadas durante a pandemia Covid-19, baseadas primordialmente em instrumentos de dívida ou garantias no caso português, garantiram valorizações dos ativos financeiros e reais para níveis históricos nos seus mercados e a manutenção do funcionamento das organizações, mas deparamo-nos com um cenário de pressão inflacionista e de subida de taxa de juro cujas consequências e evoluções apresentam risco elevado. Grandes questões se colocam aos gestores, no mercado financeiro, ou nas empresas e organizações…
O atual nível de proteção pelos governos e bancos centrais pode ser esperado, quando os níveis de ativos detidos pelos bancos centrais estão em níveis estratosféricos, perante a atual pressão inflacionista? O nível de liquidez e capital das empresas é suficiente para solver os seus compromissos de dívida (aumentada pela crise), perante o atual cenário de elevado constrangimento operacional associado a um aumento das taxas de juro?
Os próximos tempos – semanas? meses? anos? – trar-nos-ão as respostas a estas questões, mas uma coisa será certa, as organizações que estiverem melhor preparadas para responder ao que aí virá, vingarão…
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.