Com a aproximação das épocas festivas, o desafio de gerir o inventário de forma eficaz e antecipada torna-se numa questão central para as empresas que operam internacionalmente. A complexidade do mercado global – com as suas diferentes realidades entre regiões como a Ásia e a Europa – e o comportamento dos consumidores trazem oportunidades e, ao mesmo tempo, dificuldades únicas. Nesse sentido, uma gestão inteligente do inventário pode fazer a diferença entre um final de ano com lucros e um que se destaque pelos percalços logísticos e comerciais.
Para uma empresa focada na compra e venda de produtos ao universo do retalho, a temporada festiva exige um equilíbrio delicado entre evitar a escassez de produtos populares e o excesso de stock que pode ser difícil de escoar após o grande pico de vendas. Esse processo passa por três pilares fundamentais: prever a procura com precisão, otimizar os canais de fornecimento e equilibrar o inventário para responder a flutuações regionais e sazonais.
Pode a antecipação baseada em dados ajudar?
A previsão da procura é a primeira peça do puzzle de uma gestão de stock eficiente. É verdade que os comportamentos de consumo podem variar consideravelmente: um estudo da Deloitte mostra que 40% dos consumidores planeia fazer compras de Natal durante o mês de outubro, enquanto outros deixam para os meses novembro e dezembro. Na Europa, onde a tendência de compras por impulso ainda é forte, a estratégia para se prever a procura em tempo real torna-se ainda mais importante, especialmente em setores como o de brinquedos, de eletrónica e produtos de uso sazonal.
Na Ásia, por outro lado, observamos uma aposta em calendários de promoção antecipados, como o Singles’ Day, em novembro, que dita uma movimentação de inventário significativa para marcas globais. Para quem tem a tarefa de gerir e prever stocks, a análise de dados que capte estas variações sazonais e regionais é crucial para planear o inventário de forma eficaz. Aqui, podemos apontar a inteligência artificial e o machine learning como ferramentas cada vez mais acessíveis que permitem o processamento de dados históricos, tendências de procura e até mesmo a previsão de comportamentos com base em redes sociais e análises de mercado.
As diferenças entre o mercado europeu e o asiático
A gestão de um negócio internacional exige uma estratégia de abastecimento ajustada às particularidades de cada região. A Ásia, que é um dos principais polos de manufatura global, permite um acesso privilegiado a fornecedores de diferentes níveis de produção e com ofertas de preços e prazos bastante diversificados. Tirar partido destas opções pode significar vantagens importantes para um retalhista, mas também exige uma coordenação antecipada e uma capacidade de negociação forte com os fornecedores.
Em contrapartida, na Europa, onde o ritmo de fornecimento é mais previsível, as expectativas dos consumidores incluem prazos de entrega rápidos e produtos que correspondam a padrões elevados de qualidade e sustentabilidade. Muitos consumidores europeus, particularmente os mais jovens, estão cada vez mais atentos à origem dos produtos e ao impacto ambiental das suas compras. Já são vários os consumidores que preferem produtos feitos de forma sustentável, o que leva a que as empresas tenham de reavaliar os fornecedores e, em alguns casos, a optar por alternativas locais ou sustentáveis, mesmo que a um custo mais elevado.
Gerir picos de procura e produtos de impulso
Os produtos de impulso desempenham um papel significativo durante as épocas festivas, quando os consumidores tendem a adicionar produtos de última hora nas suas compras. Estes produtos, geralmente de valor acessível, captam o interesse no momento da compra, tanto em lojas físicas como no ambiente online. A gestão de stock para produtos de impulso é desafiadora, pois exige uma disponibilidade constante durante o pico de vendas, mas também uma resposta rápida para ajustar os níveis de inventário em função da procura.
Um dos truques para maximizar as vendas de produtos de impulso passa pela sua exposição e pelo destaque nas plataformas de e-commerce e pontos de venda. Em operações digitais, funcionalidades como “também pode gostar de” ou “clientes que compraram isto também compraram” ajudam a aumentar a taxa de conversão, otimizando a venda por impulso. Para o retalhista, significa investir em sistemas que integrem essa capacidade de promoção automática de produtos, o que pode influenciar decisivamente as vendas durante a próxima época festiva.
Para o comércio tradicional, a concorrência com o e-commerce é, cada vez mais, um desafio. As lojas físicas têm claramente uma vantagem nos produtos de impulso, onde o contacto direto com o produto influencia a decisão de compra. Porém, para competir com o e-commerce, o comércio tradicional precisa de inovar nas suas estratégias de inventário e na experiência do consumidor.
Preparar uma época festiva é uma tarefa complexa que requer uma combinação de dados, de adaptação às dinâmicas de mercado e, acima de tudo, inovação. Com uma abordagem antecipada e o investimento certo, é possível responder à procura com eficiência, otimizando a experiência do consumidor e maximizando os resultados. O Natal é, sem dúvida, um teste à resiliência e flexibilidade das operações de retalho – e uma gestão inteligente do inventário é o (principal) segredo para transformar o desafio num sucesso.