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Gonçalo Regalado arruma a casa no Banco de Fomento

Empresas chegaram a esperar até 18 meses para obterem respostas do Banco de Fomento, mas nova liderança está a acelerar processos e a encurtar tempos de resposta. Num momento em que o mundo e Portugal tremem com as tarifas de Donald Trump, o BPF tem uma linha de apoio aberta para ajudar empresas lusas a mitigar os impactos.
O presidente executivo do Banco Português de Fomento (BPF), Gonçalo Regalado, intervém durante a apresentação dos resultados do 1.º semestre, em Lisboa, 17 de julho de 2025. ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA
18 Julho 2025, 07h57

Gonçalo Regalado chegou há apenas sete meses ao Banco Português de Fomento (BPF). Tratou de meter mãos à obra e arrumar a casa. Havia muito para fazer, incluindo acelerar o tempo de avaliação dos processos. Em alguns casos, o BPF chegou a demorar até 18 meses a dar resposta, o que o novo presidente da instituição considera inaceitável.
“Esta é a mudança que o banco precisa e o país merece”, disse Gonçalo Regalado durante a apresentação dos resultados semestrais da instituição na quinta-feira.
“Somos um banco soberano que está de pé ao serviço das empresas e os empresários dizem ‘presente’. Não somos um banco sentado”, afirmou o gestor.
Sobre o tempo de espera dos processos, considerou que “não é legítimo nem defensável que possamos demorar meses a fio para aprovar projetos: o nosso trabalho é responder a tempo e horas”.
“É preciso avaliar com rigor, mas é preciso ter sentido de urgência, os empresários não podem ficar à espera”, destacou, recordando que chegou a haver processos encalhados durante 14 a 18 meses. “Quando dávamos resposta aos empresários, diziam que já não era preciso”, defendendo que os timings de resposta andam pelos 3 a 4 meses.
O Banco de Fomento destaca que os “resultados de 15 semanas já superam os últimos 3 anos” em termos de garantias. Comparando 2025 com 2022, o montante de financiamento total disparou mais de 300% para mais de 4 mil milhões de euros, à boleia das linhas BPF Invest EU e da BPF Invest Export.
Houve mais de 20 mil candidaturas a estes dois programas (no valor de 5,6 mil milhões de euros), com 16 mil candidaturas a serem únicas (4,1 mil milhões de euros). Deste total, foram aprovadas 10 mil candidaturas no valor de 2,8 mil milhões de euros, com 6 mil a serem contratadas no valor de 1,4 mil milhões de euros.
Em termos de dívida, a companhia destaca as 36 operações num total de 7,5 mil milhões de investimento em 15 setores, com o BPF a financiar com 800 milhões de euros, em 6 clusters: transportes, indústria e inovação, capital humano e sociedade, infraestruturas e território, agricultura e energia, clima e sustentabilidade.
O banco preparou a candidatura para a gigafábrica de Inteligência Artificial (IA) em Portugal que representa 4 mil milhões de euros de investimento. A candidatura já foi apresentada pelo BPF à Comissão Europeia, com Bruxelas a prever que a vaga de IA venha a gerar 200 mil milhões de euros na União Europeia. Em Bruxelas foram recebidas 76 candidaturas, e a UE quer investir em 4/5 destes centros de dados dedicados à IA, tendo um orçamento de 20 mil milhões.
“Portugal já teve três grandes conquistas. Primeiro, somos dos poucos países com uma só candidatura, a maioria dos países tem candidaturas dispersas. Conseguimos juntar forças em Portugal, entre o setor público e as empresas”, enumerou.
A segunda grande vantagem é “ter um consórcio onde as forças portuguesas são hoje fraquezas da Europa”: a indústria e a manufatura avançada; a indústria de defesa e militar; a saúde, a biotech e a farmacêutica; “a aposta no oceano, no mar, porque temos a maior plataforma continental da Europa e uma das maiores do mundo. Pegámos em quatro forças de Portugal que são fraquezas europeias”.
Em terceiro, “Portugal tem uma candidatura com a maior capacidade de entregar entre 2027 e 2028 a fábrica feita, porque já temos hoje um pólo em Sines que tem um centro de dados e um centro de tecnologia lá instalado, com licenciamentos ágeis e rápidos, numa zona com capacidade, e temos um eletrão verde dos mais competitivos e mais baratos, a terceira energia mais barata da Europa, com capacidade energética na região”.
OBPF estima também que a IA venha a gerar 100 mil milhões de euros de impacto em Portugal. “É o impacto de toda a transformação da indústria e toda a transformação do ecossistema digital com inteligência artificial em Portugal, que é praticamente um terço do PIB naquilo que são todas as suas componentes de valor”, explicou.
Gonçalo Regalado também explicou que as verbas do PRR que não forem usados serão canalizadas para o Banco de Fomento, tal como o JE noticiou a 11 de julho. O aviso inicial que será lançado depois do verão terá uma dotação inicial de 315 milhões de euros que deverá crescer para os 800 milhões de euros, juntando as sobras do PRR.
“Isto é ótimo para as empresas, para o investimento, para o país porque isto não é financiar o fundo de maneiro. É para financiar investimento; na reindustrialização, na defesa, na componente militar, na sustentabilidade na competitividade, e na inteligência artificial”, defendeu.
“Já estamos nesta fase a ultimar os avisos. Acho difícil que possam ser lançados ainda antes do verão. Mas queremos lançar este trimestre”, afirmou na apresentação dos resultados.
O BPF registou lucros consolidados de 8,9 milhões de euros no primeiro semestre, menos 18% face a período homólogo.
A instituição anunciou na quinta-feira que vai assinar em breve um memorando de entendimento com 3 bancos internacionais promocionais: o BGF da Polónia, o BNDES do Brasil e o BPI France de França.

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