Em 1920 Milton Sirotta, sobrinho de nove anos do matemático Edward Kasner, inventou o googol, um número grande que consistia num 1 seguido de 100 zeros, maior que o número de partículas elementares do Universo estimado por Carl Sagan. É um número que desafia a imaginação.

Em Economia, o conceito mais próximo é o de hiperinflação, cunhado por Cagan em 1956 como uma taxa de inflação mensal superior a 50%. Em julho de 1946 foi na Hungria mais de um 4 seguido de 16 zeros, menos que um googol, mas os preços dobram a cada 15 horas, o que nos faria correr no supermercado.

Vem isto a propósito de Joe Biden, que há um mês esteve nas notícias por uma fotografia tirada na visita a Jimmy Carter – o ex-presidente que atingiu mais elevada idade, com 96 anos – e que o faz parecer um gigante ao lado de Carter. A foto foi tirada com uma lente grande-angular, que contrai o centro e expande a periferia, daí o efeito. O internauta Deonardo La Vinci criou por manipulação digital o efeito contrário, Carter e esposa muito maiores que Joe e Jill. Biden acabou de anunciar o seu orçamento para os EUA, e os números são astronómicos.

Biden anunciou – falta ser aprovado, complicado no Senado – um orçamento de seis mil milhões de dólares, 25 vezes o PIB português, que em termos relativos nos leva aos anos da II Guerra Mundial. O nível de despesa implícito na proposta é sustentado, ultrapassando os oito mil milhões em 2031, e os défices orçamentais estarão sistematicamente acima dos 1,3 mil milhões de dólares.

Em termos de comparação, a França acaba de rever as suas estimativas de défice orçamental para 220 mil milhões de euros (foi 182 em 2020), da ordem do nosso PIB, um valor extraordinário e inesperado. Mas o Presidente Biden já nos mostrou que se rege pela lei dos grandes números, embora não a que conhecemos.

O seu American Jobs Plan prevê 2,3 mil milhões de despesa em dez anos, sobretudo em infraestruturas e educação, e o American Families Plan 1,8 mil milhões, nomeadamente em ajudas diretas às famílias e Saúde. Para os financiar Biden vai aumentar o imposto sobre as sociedades, de 21% para 28%, os ganhos de capital, de 24% para 43% e os rendimentos mais elevados. As despesas federais passarão de 20% para 25% do PIB, o défice oscilará nos 5% e a dívida aumentará de 100% para 120%.

O risco é a inflação – o PCE (despesas de consumo das famílias) atingiu 3,1% em abril, valor mais alto desde 1992. Para Summers e alguns mais, pode haver um aumento importante da inflação. Para outros (incluindo a Fed) trata-se de uma acusação infundada, pois acreditam que é um efeito de nível, estabilizando em 2,3%. Estamos, como dizia o poeta, em mares nunca dantes navegados; quanto aos resultados, diria o futebolista, prognósticos só no fim do jogo.