[weglot_switcher]

Governador do BdP pede “menos alavancagem e mais capitais próprios” para empresas

Para Carlos Costa, as empresas nacionais têm que saber distinguir entre empreendedores, detentores de capital e gestores. “Há uma grande tendência de pensar que quem é empreendedor é um gestor nato e as empresas ficam dependentes de quem teve uma grande ideia e depois não teve capacidade de organizar os fatores”, garantiu o governador.
10 Maio 2019, 18h26

O governador do Banco de Portugal (BdP), Carlos Costa, disse hoje que o desenvolvimento do negócio das empresas deveria passar por “menos alavancagem, mais capitais próprios e diversificação de fontes de financiamento”.

Numa intervenção na conferência “A qualidade da gestão”, no Porto, organizada pelo Conselho Económico e Social (CES), o responsável disse que “quem detém a empresa deve começar por ser o grande apostador” na companhia. “Se isso não acontecer, em ajustamento, quem sofre são os outros ‘stakeholders’”, nomeadamente os trabalhadores.

Para Carlos Costa, as empresas nacionais têm que saber distinguir entre empreendedores, detentores de capital e gestores. “Há uma grande tendência de pensar que quem é empreendedor é um gestor nato e as empresas ficam dependentes de quem teve uma grande ideia e depois não teve capacidade de organizar os fatores”, garantiu o governador.

Carlos Costa alertou ainda para a falta de “perenidade” das empresas portuguesas. “É crítico fazer com as empresas que estão na segunda ou terceira geração, que beneficiaram da adesão à União Europeia” e sobreviveram à globalização e ao mercado interno “consigam distinguir propriedade e gestão”, referiu.

“Os dados mostram ainda que a simples separação entre propriedade e gestão produz benefícios: regra geral, a qualidade da gestão é superior nos casos em que ela é entregue a pessoas externas à família que detém a propriedade da empresa”, garantiu Carlos Costa.

O governador acredita que era necessário medidas de revisão dos estatutos da sociedade em caso de haver “vários herdeiros ou sucessores que não se entendem ou não estão focados na empresa”.

Carlos Costa acredita ainda que medidas como a redução de impostos para empresas que aceitassem as contas auditadas podiam ajudar a um maior rigor nas companhias.

Para o governador seria positiva a criação de “uma nova figura ou ‘instituto jurídico’ que concentre as participações de uma dada família e que, desse modo, institucionalize o exercício da função de detentor do capital social de uma dada empresa, isto é a criação do instituto de ‘holding familiar'”.

No mesmo painel, Maria João Carioca, vogal da administração da Caixa Geral de Depósitos (CGD) referiu que “um terço da diferença de produtividade entre os países é justificada por práticas de gestão. Países como a Irlanda do Norte e a Polónia têm melhores práticas de gestão do que Portugal”.

Para a responsável as ‘startups’ têm que passar da primeira fase, “do impulso da criação para a gestão”. Maria João Carioca acredita ainda que a “gestão de risco” deve ser tido em conta atualmente.

Na abertura da conferência, o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, refletiu sobre o papel do Estado na produtividade, que acredita ser o de “não entravar o crescimento do setor privado. O que percebemos é que era muito importante que o poder público e o município fosse um facilitador para desburocratizar”, referiu.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.