De todas as eleições resultam vencedores e vencidos e as do passado dia 30 não foram exceção. Desde logo, e sem margem para dúvidas, a estabilidade governativa de maioria absoluta de um só partido político foi uma meta alcançada. Deste ponto de vista, há um vencedor claro nestas eleições a quem dou os parabéns, o Partido Socialista. Os demais partidos de esquerda são perdedores, à exceção do Livre, que trará um novo rosto de liderança à Assembleia da República (AR).
É inequívoco que os partidos de centro-direita não atingiram os seus objetivos, sobretudo o CDS/PP que registou o seu pior resultado de sempre, sem qualquer eleito, desaparecendo do Parlamento. Em contraponto, é evidente que há também uma vitória clara dos pequenos partidos, a começar no Chega e no Iniciativa Liberal que, com 12 e oito mandatos, reforçaram claramente e terão um papel importante na próxima legislatura.
O PSD e Rui Rio, em quem recaem todas as expectativas e esperanças, acabou por também não cumprir os objetivos, face à maioria obtida por um partido só, apesar de praticamente não ter perdido mandatos (antes 79, agora 78), votos (mais 157.000 portugueses) e representatividade (mais 1,37%). Mantém ainda 34% do número total de mandatos (mais de um terço), determinantes para qualquer possível revisão constitucional ou implementação de reformas estruturais.
A dúvida que sai desta eleição é mesmo saber se a inequívoca vitória do PS, para lá dos votos que a confirmam, reforçou de facto o partido. Os portugueses estarão realmente satisfeitos com o PS que iniciou a governação em 2015, sem ter ganho a eleição, mas que formou uma geringonça para assumir os destinos da nação?
Em bom rigor, o PS disparou no número de votos (mais 380.000), com a esquerda com quem governou a não alargar a sua base de apoio (BE, PCP e PAN perderam juntos 430.000 votos). O crescimento face a 2019 foi – parafraseando António Costa quando em 2014 fez cair o antigo líder António José Seguro – “poucochinho”, mas o suficiente para ser absoluto.
Para a história fica o facto de, com mais Portugueses a votar, o global dos partidos da geringonça, foi bastante pior. Senão vejamos: votaram mais 300.000 portugueses, e o que o PS cresceu em votos é inferior em 50.000 à queda global do BE, PCP e PAN.
A solução da frente esquerda PS+BE+PCP+PAN perdeu votos, mas fez do PS absoluto, e a maioria obtida por um partido só irá menorizar o Parlamento, pois qualquer que seja a lei em apreço, a matéria em discussão, o tema em escrutínio, o resultado é a priori conhecido: a vontade do PS será sempre afirmada. Mas se a direita tivesse repetido a coligação de 2015, e a tivesse alargado ao Iniciativa Liberal, mesmo com o resultado muito negativo do CDS/PP, teria votos suficientes para tirar cerca de cinco a seis deputados ao PS (ficaria com menos de 116), e a maioria não ocorreria.
O que aconteceu então para ocorrer este resultado inesperado, ainda para mais com a transferência de votos direta da esquerda para a direita? Resumidamente, houve voto útil e concentração de votos num partido só, à esquerda do PS, por medo de uma vitória de centro-direita, que as sondagens faziam antever.
Se a geringonça não deixa saudades, veremos agora se o PS, com a estabilidade desejada, virará a sua ação governativa para a social-democracia que Portugal precisa. Dentro de dias, na tomada de posse, e logo depois a primeira prova de fogo: a discussão e aprovação de um novo Orçamento do Estado para 2022. As cedências que o PS fez à esquerda radical no orçamento chumbado, e que levou a um teatro de sombras, irá manter-se, para que reine a paz política? Para já, fica a euforia de ter alcançado a maioria absoluta. Veremos em que se transformará este sentimento. Muita expectativa, a bem de Portugal.