O decreto-lei relativo à execução orçamental de 2019 ainda não foi aprovado pelo Governo e pelo Ministério das Finanças indicou à lusa que “a proposta de 2019 não deverá trazer alterações significativas face a 2018, sem indicar uma data.
Nos quatro anos de mandato do atual Governo, 2019 fica como aquele em que o Governo aprovará mais tarde o Decreto-lei de Execução Orçamental, que estabelece as normas de plena execução do Orçamento do Estado, nomeadamente em termos de cativações.
Em 2018, o Decreto-lei foi publicado em Diário da República (DR) em 15 de maio, após ter sido aprovado em Conselho de Ministros em 26 de abril, três dias depois de o Presidente da República ter dito que esperava receber o decreto em breve para promulgação.
Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou, na altura, que o decreto “tem, em pontos fundamentais, aquilo que é a regulamentação para o Orçamento poder ser cabalmente aplicado”, sendo “muito importante para a aplicação do Orçamento” do Estado.
Já em 2017, o Decreto-lei da Execução Orçamental foi publicado em DR em 03 de março e, no primeiro ano da legislatura, em 2016, o decreto foi publicado em 13 de abril.
“Parece-me um pouco estranho que o Governo não tenha aprovado o decreto-lei de execução orçamental, sobretudo porque este é o último ano da legislatura e o Governo já ganhou muita experiência na sua elaboração”, afirmou à Lusa o economista Ricardo Cabral.
“Note-se que o Decreto-lei de Execução Orçamental de 2018 foi publicado a 15 de maio de 2015, pelo que a situação não é muito diferente do ano anterior”, acrescentou o também professor da Universidade da Madeira.
No mesmo sentido, Joaquim Miranda Sarmento, professor de Finanças do ISEG – Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa, disse à Lusa que “não há razão alguma para o Decreto-lei da Execução Orçamental sair em março ou ainda depois”.
O economista sustentou que “o Decreto-lei devia ser feito em simultâneo com o Orçamento do Estado e devia entrar em vigor a 01 de janeiro”.
“Mais um sinal do anacronismo da gestão financeira do Estado”, afirmou Joaquim Miranda Sarmento, considerando tratar-se de “inércia”, porque “sempre se fez assim”.
Francisca Guedes de Oliveira, professora da Universidade Católica, no Porto, referiu, por seu turno, que o decreto-lei “geralmente sai próximo do final do primeiro trimestre ou início do segundo”.
“Existe de facto um desfasamento, sempre, é natural. Só depois de estar em vigor é que se definem os moldes da execução”, afirmou a economista.
Ricardo Cabral explicou que “o DL de execução orçamental indica aos serviços como devem executar o Orçamento em detalhe, nomeadamente em termos de cativações”.
“A maior parte dos artigos é ‘copy-paste’ de anos anteriores, mas o diabo está nos detalhes”, acrescentou.
Questionados sobre quais os riscos e as consequências decorrentes de os serviços estarem vários meses sem a publicação do Decreto-lei da Execução Orçamental, Francisca Guedes de Oliveira indicou que “não há grandes riscos nem consequências uma vez que enquanto não entra em vigor o novo aplica-se o anterior”.
Ricardo Cabral explicou que “o decreto-lei de execução orçamental de 2018 ainda está em vigor, nos termos de um artigo desse decreto-lei”.
No artigo 183.º, o Decreto-lei de Execução Orçamental de 2018 indica que “produz efeitos à data da entrada em vigor da Lei do Orçamento do Estado […] e até à entrada em vigor do decreto-lei de execução orçamental para 2019”.
O economista e professor da Universidade da Madeira adiantou que “saiu uma circular com instruções da Direção-geral do Orçamento sobre este assunto. Ou seja, na prática aplica-se o Decreto-lei de execução orçamental de 2018”.
Questionado sobre quando será aprovado o Decreto-lei de Execução Orçamental (DLEO), o Ministério das Finanças não referiu qualquer data, indicando que “é frequente ser aprovado mais tarde”.
Sobre qual a justificação para não ter sido ainda publicado, o ministério tutelado por Mário Centeno indicou apenas que “o DLEO do ano anterior e a respetiva regulamentação continuam em vigor até à aprovação de um novo DLEO”, acrescentando que “a proposta DLEO de 2019 não deverá trazer alterações significativas face a 2018”.
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