A ano e meio das próximas eleições legislativas e a seis meses da apresentação do próximo Orçamento do Estado, adensa-se o ambiente entre os parceiros da maioria de esquerda que suporta e apoia o Governo.

Começou a representação teatral entre BE e PCP, através de Catarina Martins e Jerónimo de Sousa devidamente engalanados no seu papel de figurinistas de palco, numa peça em que na boca de cena estará o primeiro-ministro e líder do PS, indissociável da figura de António Costa.

Em cada exercício de orçamento se repetiram os exercícios vocais de crescendo. Depois de falas em que o tom se foi modelando ao corrente das ondas entre protestos e júbilo, na estrita dimensão de arrufos, zangas e reconciliações, estamos perante uma reprise de três anos num fecho de ciclo que se concluirá no fim da legislatura.

Uns ameaçam com uma instabilidade crescente de desfile na rua e pausas no trabalho. As greves registadas ou anunciadas são já em maior número que no momento mais agudo de contestação ao governo Passos Coelho. Outros, não tão ameaçadores, espreitam a oportunidade de abrir um acesso mais próximo ao poder, pois que para isso nascem e se desenvolvem os partidos. Ato legítimo para o qual se exige a coragem política de assumir a vontade e a proficiência.

Do exercício orçamental não resultará nenhuma crise política. No final, e mais uma vez com algum dramatismo, o Orçamento para 2019 será aprovado – seguramente num momento que alguns hão-de atribuir à capacidade negocial do líder do Governo ou do líder do PS, conforme o que estiver disponível.

Está escrito assim no guião que não deixa margem para criatividade ou “buchas”. E os ensaios começaram para a estreia oportuna, com data marcada: outubro deste ano. Não estranhamos nem o panorama nem o resultado. Mas tal como assim será o final feliz anunciado, importa que se seja claro em todo o percurso daqui até às legislativas.

Dito de outra forma, exige-se aos partidos da geringonça – PS, PCP, PEV e BE – que assumam em tempo prévio até às eleições, não apenas a sua disponibilidade, mas a sua vontade de fazerem parte de um próximo governo. Claro que antes terão de ganhar as eleições e alguns desses parceiros irão trabalhar para impedir uma maioria absoluta de outrem, o que aliás parece cada vez mais difícil.

Aos partidos de centro-direita que nada tiveram a ver com as opções deste Governo, impõe-se demonstrar que as táticas de momento e as respostas a protestos não é governar. Apenas impede os danos colaterais imediatos na popularidade, promovendo um crescente novelo de decisões que mais tarde irão enrodilhar-se.

Quanto mais aumenta o tom de palco, mais se atropelam as deixas dos protagonistas. Mas a peça não é original. Os personagens não têm imaginação. Só buscam um novo protagonismo. Vamos ter orçamento. Continuaremos a ter governo, embora manietado pelas falas do autor. Com um crescente sentimento de amarras e de estar em liberdade condicional até às eleições. Onde se espera que todos tenham clareza quanto às intenções com que se apresentam às legislativas.