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Governo teve quatro versões das projeções económicas no esboço orçamental

Conselho das Finanças Públicas considera que há um “elevado risco” de aceleração económica prevista para 2020 não se concretizar.
Cristina Bernardo
17 Outubro 2019, 07h48

As projeções económicas que o Governo inscreveu no esboço orçamental enviado a Bruxelas foram feitas num ambiente de particular incerteza, com sucessivas revisões dos valores calculados pelo Ministério das Finanças durante um período que coincidiu com a reta final da campanha das legislativas e a semana pós-eleitoral. E, mesmo com sucessivas alterações, o organismo presidido por Nazaré da Costa Cabral entende que o crescimento de 2% previsto para 2020 tem “elevados riscos” de não se concretizar.

Segundo revela o parecer do Conselho das Finanças Públicas (CFP) ao cenário macroeconómico do Executivo, desde o início de outubro houve quatro versões das projeções enviadas pelo Ministério das Finanças. Nos anos anteriores, foi comum haver revisões, mas este esboço orçamental foi o mais fértil em número de alterações num tão curto espaço de tempo.

Segundo o parecer, o CFP só recebeu a 1 de outubro uma “versão de trabalho” das previsões macroeconómicas, quando nos anos anteriores esse documento preliminar chegou em meados de setembro. E pouco demorou até que houvesse uma nova versão: o documento foi retificado logo no dia seguinte, 2 de outubro, pelo Ministério das Finanças.

No dia 3 decorreu uma reunião entre as equipas das Finanças e do CFP, na qual o gabinete de Centeno fez uma apresentação sumária do cenário macroeconómico. A versão supostamente final desse cenário foi  enviada a 9 de outubro ao CFP, mas houve uma nova retificação a 11 de outubro, elevando para quatro o número de versões das projeções económicas.

Mas as alterações feitas às contas não foram suficientes para merecer uma avaliação positiva do CFP, que mostra “reservas” sobre as estimativas e previsões do cenário macroeconómico enviado para a Comissão Europeia.

“Os elementos explicitados neste parecer relativamente ao comportamento das componentes da procura, em particular das exportações e das importações em 2020, não permitem considerar o cenário apresentado como prudente, dados os elevados riscos descendentes que incidem na previsão de aceleração da atividade económica em 2020”, acrescenta.

O CFP destaca que o cenário macroeconómico é apresentado num contexto particular, já que devido à eleições legislativas o esboço do Orçamento ainda não considera novas medidas de política para próximo ano, “nem sequer as consideradas no Programa de Estabilidade 2019-2023” e salienta que a atualização metodológica levada a cabo pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), em setembro, limita as comparações do cenário das Finanças, já que apenas será comparável às projeções do Banco de Portugal e do próprio CFP.

 

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