Num mundo cada vez mais exigente, onde os cidadãos têm que lutar diariamente por um lugar ao sol, os nossos jovens são desde muito novos incentivados pelos poderes públicos a fazerem o mínimo possível, criando-lhes a ideia de que tudo são facilidades, não tendo que ser avaliados pelo seu mérito escolar e sendo tratados como se estivessem imunes a uma pressão que lhes irá mais tarde tornar a vida num inferno.

Aquilo que há uns anos fazia com que os alunos se empenhassem desde cedo, a meritocracia, é hoje em dia demonizada pelos partidos da esquerda, que tentam a todo o transe evitar que as “criancinhas” tenham que conhecer, ainda em tenra idade, o sabor do insucesso, tenham que lidar com a pressão da avaliação, tenham que se confrontar com a possibilidade de reprovação.

O chumbo, esse, foi sendo progressivamente substituído pela reprovação, depois pelo não aproveitamento e, mais recentemente, pela retenção, palavra que procura suavizar a frustração de quem conheceu o insucesso escolar.

Mas, independentemente do jogo que se fizer com as palavras, o fracasso parece assustar aqueles que de há uns anos a esta parte assumiram os destinos do nosso país, não querendo sujeitar a juventude à pressão das avaliações, preferindo que estas adquiram competências e não conhecimentos, que estas não tenham que se confrontar com o drama da retenção, que, outrora, ainda há não muito tempo, se chamava “chumbo”.

É por isso que, sucessivamente, se foram eliminando do léxico escolar alguns termos hoje considerados perniciosos para os jovens, preferindo utilizar termos cada vez mais neutros, como aferição, em vez de exame ou avaliação, como retenção, em vez de reprovação, como competências, em vez de conhecimentos.

A batalha vai-se acentuando cada vez mais e agora no olho do furacão estão a abolição dos exames do 9.º ano e o fim dos exames nacionais de acesso ao ensino superior. A medida, de cariz economicista, pois permite poupar aos cofres públicos algumas centenas de milhões de euros, terá, ao contrário do que se poderia pensar, um impacto muito negativo na economia do país, pois significará, uma vez mais, a facilitação da vida dos alunos, que são levados a pensar que vivem no paraíso, que o empenho e a abnegação são defeitos e não virtudes, que nunca terão que lutar para alcançarem o futuro com que almejam.

A avaliação, esse papão, a retenção, essa maldição, passarão a fazer parte da história, não mais perseguindo os alunos, que poderão, independentemente dos conhecimentos (pelo desculpa, das competências), transitar de ano, um após o outro, fazendo lembrar a célebre frase “de vitória em vitória até à derrota final”.

Esta grande balda em que os alunos vão vivendo no nosso país, com a abolição, ano após ano, de provas, exames, avaliações, retenções, farão de Portugal, no futuro, um país ainda menos produtivo, ainda menos competitivo, atirando sucessivas gerações de jovens para a cauda da Europa, de uma forma cada vez mais consolidada.

O elevador social que o ensino representava, permitindo a famílias mais pobres verem os seus filhos alcançar, a custo, com muito mérito e sacrifício, posições que outrora estavam vedadas aos seus pais, estará definitivamente condenado, passando Portugal a viver uniformemente num rés-do-chão, onde todos passarão por provações, pois serão licenciados, mestres ou doutores, mas não conseguirão obter um emprego bem remunerado que lhes permita alcançar o bem-estar que perseguem. Nesta amálgama social, o mérito estará definitivamente atirado para um contentor, não sendo sequer passível de reciclagem.