“Político: uma enguia no lamaçal basilar sobre o qual a superestrutura da sociedade organizada é erigida. Quando se contorce, confunde a agitação da cauda com o estremecimento do edifício” – Ambrose Bierce
Realizou-se no último fim-de-semana de Novembro mais um Congresso do Partido Comunista. À revelia do que o bom senso aconselhava, em função da situação sanitária grave que vivemos, o Partido Comunista resolveu afrontar a esmagadora maioria da opinião pública e seguiu em frente. O tema deste artigo, porém, é outro. Segui com toda a atenção o discurso inflamado e façanhudo do camarada Jerónimo de Sousa. Ao longo da sua prelecção foram vários os temas que me chamaram a atenção, mas vou deter-me apenas sobre dois ou três.
Começou por se referir ao “grande capital” da forma habitual, isto é, como se a caixa de Pandora ali se tivesse aberto e todos os males do mundo tivessem como origem esse tal “grande capital” – maléfico, voraz, diabolizante, explorador e base capilar infectante de todas as sociedades.
Gostava que Jerónimo de Sousa estudasse (e não lesse) o “Capital” de Marx e o que ele refere como base do desenvolvimento das Sociedades.
Diz Marx que o desenvolvimento das sociedades se consubstancia, e assenta, na acumulação de capital. É essa acumulação que irá gerar valor, que será a base da criação de riqueza e que será distribuída por quem investe e pelos trabalhadores. Ao chegar aos trabalhadores, estes sustentam a família, compram bens e serviços (alimentando outros agentes económicos), pagam impostos ao Estado e, com o seu efeito multiplicador, geram mais riqueza e oportunidades.
O outro tema foi a forma vil como se referiu à União Europeia, rotulando-a de “imperialismo”. Se o é, não entendo a razão dos deputados que têm no Parlamento Europeu…? Contradição flagrante!
Refere-se ao PSD como sendo a “direita”. Pois nada mais errado. A diferença entre o PS e o PSD está simplesmente na forma, uma vez que o conteúdo é o mesmo. Com alguma boa vontade, ainda posso crer que o CDS possa ser aquilo a que ele chama “direita”, mas aqui estamos perante uma situação idêntica àquela das estrelas que hoje ainda vimos o brilho mas que se apagaram há dezenas ou centenas de anos. É só uma questão de tempo (pouco) para o brilho aqui também se finar e não ficar mais do que uma poeira cósmica muito residual.
Estas abordagens fazem parte de um passado longínquo, onde o PREC era o dogma dos comunistas. O Partido Comunista já deveria ter percebido que os tempos há muito que mudaram e que esta forma de fazer política não faz hoje qualquer sentido. O PCP não foi capaz de se adaptar às exigências que o tempo actual compagina e configura, basta ver os discursos dos delfins para perceber que seguem a mesma linha retrógrada e obsoleta.
Vi também a forma ardilosa como os jovens estavam colocados na plateia do Congresso – na linha da frente –, dando uma falsa imagem para as televisões captarem, de que o Partido é de jovens. Nada mais errado.
O Partido Comunista ainda vai sobrevivendo à custa dos mais idosos, daqueles que pouco entendem de política, mas que se deixaram levar desde muito cedo por ideais completamente megalómanos. Um partido a quem não se conhece uma palavra de crítica para com as atitudes abusivas da China; com a tirania e ditadura da Correia do Norte ou com a fantochada venezuelana, não irá sobreviver por muito mais tempo. As fracas votações que vai coleccionando, quer nas legislativas quer nas autárquicas, demonstram o caminho para o seu ocaso e pouca significância.
No entanto, estou convicto de que o Partido Comunista Português – a sua sobrevivência até agora – daria um bom tema para uma Tese de Doutoramento em Ciência Política. Porque enquanto os partidos comunistas de Espanha, França e Itália há muito que desapareceram, o Partido Comunista Português, ainda por cá continua, embora com uma influência cada vez menor.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.