Se dúvidas houve no início, já não há ilusões sobre Trump: está na terceira fase da Síndrome de Húbris, o que o torna ainda mais pernicioso como governante da mais poderosa nação do mundo. Que dizer à China e suas pretensões sobre Taiwan quando Trump ameaça tomar a Groenlândia, o Canadá e o canal do Panamá?
Que observações merece quem desconsidera, denigre e ameaça quem se lhe opõe, como fez com o senador Tillis, do seu próprio partido, que se opôs aos cortes na Medicaid contemplados na Big Beautiful Bill, merecendo de Trump a promessa de apoiar um seu opositor nas primárias? Tillis tomou a saída honrosa ao declarar que não seria candidato à reeleição. E face a contestarem a sua afirmação de que as instalações nucleares iranianas estavam “totalmente obliteradas”, CNN e “New York Times” mereceram ser apelidados de “bad and sick people”.
A batalha de Trump pelo poder absoluto começou no primeiro mandato, com nomeações para o Supremo Tribunal. Atualmente, está como o César de Goscinny, quando só uma aldeia gaulesa resistia ainda e sempre, no caso, a FED de Jerome Powell.
Esta semana, Trump enviou-lhe uma mensagem que o acusa de ter feito os EUA perderem uma fortuna por não descer a taxa de juro, coisa que a FED não faz sem ter claro o impacto das tarifas de Trump sobre a inflação – se bem que será um impacto one shot, um salto de nível, a taxa de inflação é uma média anual, portanto o efeito far-se-á sentir durante pelo menos um ano, e é permanente ao elevar o nível dos preços.
Mas Trump não se ficou por aqui: vai substituir Powell em 2026, no fim do seu mandato, mas pondera anunciar já o seu sucessor (seria a primeira vez na história dos EUA) para lhe minar a autoridade nas reuniões do FOMC, onde se sentariam presidente e presidente-in-waiting da FED.
Esta estratégia está a produzir os seus frutos, pois dois membros do Comité, Bowman e Waller, já se pronunciaram a favor da descida dos juros. Como por acaso, ambos são já escolhas de Trump, e Waller o seu favorito para o lugar de Powell.
Se Trump tomar a FED, será o fim da pouca independência, credibilidade e sensatez que resta à política económica americana. Isto e a BBB piorada no Senado serão demolidores, e veremos como resiste o dólar, que já perdeu 10% este ano. A taxa de juro bem pode descer, mas o custo de financiamento da dívida americana, com défices recorde, volatilidade e respetivos prémios, e um sistema monetário internacional baseado na lei da selva são verdadeiros BBBs (bunker boasting bombs) na economia mundial.