A mensagem veio do polémico ministro das Finanças alemão Wolfgang Schäuble no final de 2016, e foi taxativa: “a Grécia deve implementar reformas económicas para segurar o seu lugar na Europa”. A contas com a segunda revisão do terceiro programa de assistência externa desde meados de outubro, persistem preocupações que poderão ajudar a voltar a incendiar as dúvidas relacionadas com a permanência do país na União Europeia, e que não têm solução fácil a curto prazo. O sucesso da avaliação do programa enfrenta neste momento dificuldades em alguns pontos estruturais, onde se destacam as medidas de contingência fiscal para controlar o défice e as reformas na negociação coletiva de contratos trabalho. Em causa está a libertação de uma tranche que ronda os 6,5 mil milhões de euros, de forma a assegurar a estabilidade financeira até 2018.

A avaliação do programa, contudo, não é a única preocupação. Paralelamente à avaliação, o FMI irá submeter uma apreciação relativamente à sustentabilidade da dívida. Uma opinião negativa pode levar a Grécia a ver suspenso o acesso ao mecanismo de estabilização europeia (MEE), que traz consigo consequências potencialmente nefastas para a zona euro. Não é expectável que os parceiros e credores europeus permitam, a meio do ciclo eleitoral, entre eleições francesas e alemãs, que os mercados financeiros se voltem a incendiar com um incumprimento helénico. Mas também é improvável que assumam uma nova reestruturação da dívida deste país antes que o super-ciclo eleitoral no euro termine – o que apenas deverá acontecer no final do ano.

Isto significa que o Banco Central Europeu poderá vir a ser chamado a incluir, de alguma forma, as emissões helénicas no programa de aquisições de ativos em 2018 (Euro QE). Mas isto exigirá, obviamente, um exercício delicado de agendas, que permita um acordo político e tecnicamente viável sobre uma solução. Este debate pode, sem dúvida, trazer de novo ao de cima a incerteza sobre a permanência da Grécia no euro mas, acima de tudo, pode trazer ao palco central a discussão sobre a sustentabilidade económico-financeira dos países da periferia, num momento em que a Europa parece preparada para abandonar as medidas que mantêm os custos de financiamento extraordinariamente baixos. As reformas estruturais nestes países serão, assim, fundamentais para reconquistar os níveis de competitividade e os equilíbrios necessários no “pós-QE” europeu.