A Europa é um continente historicamente marcado por conflitos. As duas Guerras Mundiais e toda a brutalidade e destruição tiveram como palco a Europa.

Dessa forma, o projeto europeu é um sucesso por tudo que conseguiu e, sobretudo, por ser um projeto de paz, alicerçado na prosperidade económico-social dos seus membros. Um consenso entre os socialistas e democratas-cristãos que, ao longo da História, cumpriram este sonho.

Bem sabemos que a União Europeia, muitas vezes, se torna extemporânea nas decisões, o que no nosso entender é fruto da diversidade cultural, política, económica, bem como de diferentes interesses estratégicos dos seus membros. No entanto, o modelo económico de sucesso aliado a um modelo social que valoriza a coesão social, tornou o projeto europeu como único no mundo, o maior sucesso da política das últimas décadas.

A verdade é que a digitalização da economia, a Inteligência Artificial, bem como o objetivo de uma economia verde com energias limpas, colocam um desafio estruturante à União Europeia, num contexto geopolítico difícil onde os Estados Unidos e a China tentam ser liderantes.

Com a saída do Reino Unido da União Europeia, perdemos um dos mercados de capitais mais avançados do mundo e, por isso, torna-se imperioso a agilização e o fortalecimento do mercado de capitais europeu.

Com a ausência de um sistema financeiro, onde se inclua um forte mercado de capitais, perderemos a capacidade da canalização de financiamento daqueles que precisam dele para investir e consumir, por parte daqueles que são excedentários (poupança). Pode não parecer fácil de perceber, mas o excesso de dinheiro (poupança) de uns, consegue chegar a quem tem deficiência dele (agentes deficitários) através do sistema bancário ou do mercado de capitais.

Nesse campo, precisamos de melhorar substancialmente o nosso mercado de capitais, o que pode explicar a escassez de capital das nossas empresas e famílias ou até municípios que são dependentes do crédito bancário.

No contexto europeu, o crédito bancário representa 75 % do financiamento e financiamento obrigacionistas somente 25 %. Por isso, partilhamos as preocupações manifestadas na carta assinada pelos presidentes da Comissão Europeia, do Conselho Europeu, do BCE, do BEI e Eurogrupo, de 10 de março, que quase passou despercebida, onde os mais altos cargos da União Europeia apelam para acelerar o processo da União do mercado de capitais.

Mas mais que isso, é necessário criar um mercado de capitais onde pequenas e médias empresas, bem como os municípios, possam aceder a financiamento obrigacionista e onde o prémio de risco possa ser definido por uma agência de rating europeia de caráter independente, mas credível.

Este acesso ao mercado obrigacionista ainda se torna mais importante na emissão dos denominados green bonds, obrigações que permitem o financiamento de projetos verdes e que podem ser cruciais no processo de descarbonização, e com a evidência de contribuir para esse desenvolvimento.

Nos EUA as pequenas e médias empresas têm acesso a este mercado de financiamento, bem como os municípios têm possibilidade de emissão deste tipo de títulos que podem financiar os projetos verdes. Para existir procura destes investimentos por parte dos investidores, compete á União Europeia criar um incentivo fiscal europeu que poderia ser financiado através de uma taxa sobre o carbono.

Este é o caminho que defendemos alicerçado naquele que é igualmente o desígnio dos grandes objetivos europeus: financiar a sustentabilidade.