O discurso de Isabel Schnabel na “Watchers XXII Conference” acerca da transição energética e suas implicações na política monetária merece ser lido com atenção por quem quiser compreender a linha de atuação dos decisores europeus nesta matéria. A sua principal conclusão é que a subida pronunciada da inflação é uma forte chamada de atenção para a urgência em acelerar aquilo a que chama de green transition.
Membro do Comité Executivo do BCE, Schnabel defende que, se até agora a dependência dos combustíveis fósseis representava um perigo para o planeta, passou entretanto a ameaça “à segurança nacional e aos nossos valores de liberdade e democracia”. Nessa perspetiva, as energias renováveis são “energias de liberdade”. A transição obriga a pagar um preço, ligado à inflação energética e que resulta de três choques.
O primeiro, segundo Schnabel, são os custos diretos das alterações climáticas – climateinflation – como os desastres naturais, seca, entre outros. O segundo – fossilflation – reflete os custos da dependência das fontes fósseis, o desinvestimento nestas tecnologias, a subida do custo de financiamento para estes projetos, os preços das licenças de carbono [a que dedicamos um artigo aqui] e o facto de ser um mercado cartelizado. O terceiro choque – greenflation – resulta de que a maior velocidade da transição implica uma procura acrescida por matérias-primas, sobretudo metais, cujo preço tem vindo a subir e assim deverá continuar.
E qual o papel do BCE neste contexto? Schnabel esclarece que a política monetária não pode ignorar a transição energética, mas que alterar as metas de inflação ou retirar os preços da energia dos cabazes está fora de hipótese. Adiar a subida de taxas de juro também não está nos planos do BCE, que pede à política fiscal que seja o protagonista principal. O BCE propõe-se “apenas” a discriminar positivamente os emitentes com projetos “verdes” ou de sustentabilidade, a alterar regras de colateral e a fomentar o mercado de green bonds.