Nascida na classe média, como cerca de 80% dos suecos, Greta Thunberg segue o padrão familiar. Os pais e a família estão envolvidos com Teatro e com Ópera. Juntos publicaram um livro cujo título é “ A Nossa Casa está a arder: Cenas de uma Família e de um Planeta em Crise”. Segundo os próprios, o autismo da filha está correlacionado com a angustia que o perigo em que o planeta se encontra nela incutiu. A mãe abdicou da sua carreira operática para se dedicar à luta travada pela filha. Tanto o pai como o avô são atores e a irmã gostaria de seguir os passos da mãe como cantora de ópera. Greta tem 2.1 milhões de seguidores no Twitter e 5.6 milhões no Instagram.
Num mundo onde imperam Trumps, Bolsonaros e Erdoghans, povos antigos e sábios, órfãos de bússola moral e ética, entregam-se à deificação de qualquer um que apareça e se lhes pareça, estandarte na mão, a defender uma boa causa, uma daquelas que é comum à humanidade e que, pela sua incontestável importância, nos consegue congregar a todos. Foi desta mistura tóxica que surgiu Greta Thunberg. Não por acaso, Greta lembra fisionomicamente a Pipi das Meias-Altas, fala num inglês encantador, nasceu na impoluta Suécia e, na inocência dos seus 16 anos, atira aos adultos que não deveria “estar em Nova Iorque [na Cimeira do Clima] mas sim na Escola”. Entre choro, soluços e interjeições de ofensa e tristeza exige que os mesmos “lhe devolvam a infância” enquanto proclama que “milhões estão a morrer” por culpas alheias.
Se a demagogia necessitasse de uma imagem, nada melhor que a conferência de Greta. Teatralizada, dramatizada e concitando a atenção das câmaras mundiais, a mensageira é agora mais importante que a mensagem onde a hipérbole substituiu a temperança e o terror se sobrepôs à razão.
Penso que, contrariamente à ideia expandida por muitos meios de comunicação social, após um primeiro momento em que todos nos agrupámos atrás da voz aparentemente inocente de Greta Thunberg, esta acaba de se juntar às muitas celebridades que, militando contra as alterações climáticas, beneficiam despudoradamente da notoriedade que a sua militância lhes confere, contribuindo assim à indiferença coletiva. É assim que devemos avaliar o porquê dos deputados da Assembleia Nacional francesa se juntarem para “ouvir” Greta. Será que desconheciam os problemas de que ela fala? Precisavam do seu conselho? Não. Apenas queriam ser vistos e fotografados com ela, da mesma forma que o fariam com Meghan Markle.
Não deixemos que o espetáculo substitua a realidade e que a enunciação do problema seja mais importante que o problema em si. Não permitamos que o show montado neste combate nos leve a avaliar a performance dos seus protagonistas esquecendo que, afinal, cada vez que Greta vai de barco à vela, milhares vão de avião, alguns deles para lhe assestar uma câmara, ou lhe gravar a voz. Estou certo que Greta acredita na inegável bondade da sua causa e prefiro não me deixar levar pelas muitas teorias da sua manipulação. Mas é importante que a seriedade na ciência e na política sejam restituídos à discussão pública. Só assim o clima não continuará a alterar-se e Greta poderá voltar à escola.