Os críticos de Greta Thunberg são um bocado míopes. Muitos deles são homens brancos, de meia idade e que ocupam confortáveis lugares cativos nos corredores do poder político, mediático ou empresarial.

Não conseguem compreender que uma rapariga adolescente, ainda por cima com síndrome de Asperger, consiga captar tanta atenção. Não conseguem ver além dos seus próprios preconceitos e vontade de manter tudo na mesma. Mais importante, não conseguem ver que, através dessa atenção, a jovem sueca está a também a conseguir influenciar alguns dos mais importantes decisores do mundo: aqueles que indicam para onde vai o dinheiro.

Esta semana, a BlackRock, a maior gestora de ativos no mundo, que gere quase 7 biliões de dólares (!), anunciou que vai alterar a sua estratégia. Na carta anual que envia a CEO e clientes, o presidente da gestora norte-americana, Larry Fink, explicou que o foco vai passar a estar nas alterações climáticas e na inclusão da sustentabilidade nos portefólios.

A empresa explicou ainda que o investimento sustentável vai ser o standard e que vai oferecer melhores retornos. Em termos concretos, disse que vai remover dos portefólios as empresas que geram mais de 25% das receitas através da produção de energia via centrais termais a carvão.

Greta Thunberg não é, evidentemente, pioneira no ativismo ambiental. Nem é, naturalmente, única responsável, e direta, por todas as decisões que apoiem o combate às alterações climáticas. No caso da BlackRock, o crédito poderá até ser atribuído a um grupo de nove mil freiras que pressionaram a gestora, acusando-a de greenwashing, ou seja, de proclamar estar preocupada com o ambiente mas depois não agir em conformidade, por exemplo, nas votações nos boards das empresas nas quais investe.

As reações à carta de Fink foram mistas, com alguns ativistas a dizer que foi um passo crucial, e outros a sinalizar que preferem esperar para ver.

As motivações da da gestora de ativos podem ser múltiplas. Vamos dar o benefício da dúvida, poderá estar genuinamente preocupada com o futuro do planeta. Numa visão mais pragmática, poderá ter decidido que não pode mais ser alvo de críticas de ativistas. Larry Fink reconheceu um terceiro racional: investir em ativos sustentáveis vai ser mais lucrativo.

Em qualquer uma destas opções, não se pode ignorar o dedo de ativistas como Thunberg ou as freiras. Foram e são cruciais em persuadir os decisores a pensar sobre o ambiente, em fazê-los corar de vergonha, e a convencer os investidores e consumidores a optar por produtos, serviços e ativos mais sustentáveis.

A viragem de foco da BlackRock foi apenas o último sinal de uma realidade cada vez mais clara: o dinheiro está a ficar ‘verde’. O sistema financeiro, como Fink escreveu, está num processo acelerado de realocação de capital, em direção a ativos que ajudam, ou pelo menos não dificultam, o combate às alterações climáticas.

Os fundos dedicados a investimentos que respeitam critérios ambientais, sociais e de governance, estão a multiplicar-se. As emissões de obrigações ‘verdes’ já não são raridade. Os bancos já integram o financiamento do circuito sustentável. Os governos e organizações como a Comissão Europeia estão a acelerar os estímulos orçamentais para a sustentabilidade.

Quase toda a gente parece estar a ouvir os alertas de ativistas como Thunberg. A ativista sueca vai regressar a Davos na próxima semana para falar aos ricos e poderosos. Os críticos do ‘verde’ vão, claro, ficar vermelhos de raiva.