Sabe-se que grandes empresários gostam de fazer “greve”. “Greve” à legislação laboral, “greve” às obrigações fiscais (ver Operação Furacão). Mas não gostaram do desfecho das eleições de 4 outubro de 2015. Logo, pré-aviso de “greve” ao investimento! E, neste tempo de Governo PS, sucedem-se as ameaças. Que têm a bênção do PSD e CDS. Passos Coelho: “Mas quem é que põe dinheiro num país dirigido por comunistas e bloquistas?”.

Pedro Queirós Pereira, no Expresso, anunciou que não investia (120 milhões de euros numa unidade de pasta de papel) por causa do PCP no Governo. Agora declara que não o faz porque o Governo quer proibir mais eucalipto (Expresso 03SET16). Ribeiro da Silva (Endesa) põe fim à construção da Barragem de Girabolhos (400 milhões de euros), contratualizada há cerca de dez anos, porque o ministro do Ambiente terá anunciado uma avaliação do Plano Nacional de Barragens – o Governo deve esclarecer esta história. E João Miranda (Frulact) acha que tal acontece por falta de incentivos, mas também porque “Todos sabem que o BE e o PCP não simpatizam muito com a iniciativa privada”.

No Jornal de Negócios de 13SET16, o Presidente da ATP, Paulo Vaz, afirma: “Os investidores nacionais e internacionais não confiam num Governo que, (…) tem por base de apoio partidos da extrema-esquerda, com contínuas exigências radicais (…)” e Rafael Campos, Vice-Presidente da AIMMAP, “sei que há alguns casos de empresas que estão inclusivamente a pôr em causa a possibilidade de novos investimentos em Portugal” porque “Existe desconfiança assumida nas forças políticas que apoiam o Governo. As empresas sentem-se inseguras com a influência crescente do Bloco de Esquerda e do PCP. E enquanto isso continuar a acontecer, dificilmente regressarão aos investimentos”.

Fechem-se estas citações com António Saraiva, Presidente da CIP, “Não há confiança na relação de forças que sustenta o Governo e isso continua a gerar muita instabilidade que não atrai investimento essencial à criação de emprego e ao crescimento da economia” (Diário de Notícias 06JUL16). Diga-se, que há quem não faça esta avaliação. Casos, no mesmo Jornal de Negócios, de Vieira Lopes, Presidente da CCP e de Paulo Almeida, da AEP.

Mas o mais interessante nesta “greve política” ao investimento é que, nesse Jornal de Negócios, se refiram inquéritos a empresários (INE), onde mais de 50% dizem que o não investimento decorre da perspetiva da falta de vendas, isto é, de mercado solvável, isto é, de crescimento económico. Depois aparece a rentabilidade dos investimentos (20%), a que se segue a capacidade do autofinanciamento (11%) e o crédito (8%)! Nada de “greve política”. Uma conclusão: há líderes do capital muito dessincronizados da classe!

Porque não terão investido os “grevistas” quando o Governo era o do PSD/CDS, que tinha toda a sua confiança política?! Farsantes… Os dados conhecidos não deixam dúvidas: durante esse período (2011/2015), o Investimento Privado caiu, em termos reais, 24,6%.

Ignorantes que somos, pensávamos que gestores experimentados e de excelência, empresários empreendedores e amigos do risco, investiam quando sentiam uma oportunidade de negócio. Afinal, é tudo muito mais simples: trata-se de ter no Governo gente amiga da “iniciativa privada”, que não falte com benefícios fiscais, uma reduçãozita do IRC e chorudos subsídios comunitários. Parasitas… O que diriam se sindicatos invocassem, como motivo de uma greve, a composição partidária, por exemplo PSD/CDS, de um governo.

E, finalmente, compreendemos como é essencial a titularidade pública de empresas estratégicas ou equipamentos estruturantes. Como um País não pode estar dependente na realização desses investimentos, da boa vontade ou humor do capital privado. Tal como também é decisivo, no momento difícil que Portugal atravessa, o investimento público. Até para fazer arrancar o investimento privado!