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Groundforce. 11 perguntas e respostas sobre o “balão de oxigénio” de sete milhões e o futuro da empresa de handling

O conselho de administração da Groundforce reúne-se hoje para votar o acordo com a TAP. Os trabalhadores esperam receber os seus salários em atraso entre hoje e segunda-feira. Acordo com a TAP permite à Groundforce a recompra do equipamento – como tratores, autocarros e escadas – no prazo de 60 dias.
  • André Kosters/LUSA
19 Março 2021, 07h36

A TAP, a Pasogal, os sindicatos e a comissão de trabalhadores estiveram a ser ouvidos na quinta-feira no Parlamento sobre a situação financeira da  Serviços Portugueses de Handling (SPdH)/Groundforce

A companhia detida pela Pasogal (50,1%) de Alfredo Casimiro, e pelo grupo TAP (49,9%) continua por pagar os salários em atraso de fevereiro.

Um acordo anunciado ontem pela TAP e pela Pasogal poderá providenciar uma solução de curto prazo para a empresa de assistência de passageiros, carga e bagagens nos aeroportos nacionais (handling), mas ainda persistem muitas incógnitas sobre o médio e longo prazo da Groundforce.

Qual o acordo previsto entre a TAP e a Groundforce?

A TAP vai comprar à Groundforce o seu equipamento. Esta operação vai permitir providenciar um “balão de oxigénio”, como disseram Miguel Frasquilho e Alfredo Casimiro, à empresa de handling.

A companhia aérea depois aluga de volta os equipamentos à Groundforce para que a empresa possa prosseguir a sua atividade.

A operação – conhecida por sale & lease back – vai ficar fechada por 6,97 milhões de euros, ” valor esse que é o necessário e suficiente para que a SPDH (Groundforce) possa pagar os salários de fevereiro de 2021 e Março de 2021, bem como os correspondentes impostos de Março de 2021″, segundo anunciou ontem a TAP.

Além de acionista minoritário, a TAP é também o maior cliente da Groundforce, sendo responsável por 70% da operação.

Quando é que os 2.400 trabalhadores da Groundforce recebem os seus salários em atraso?

Os trabalhadores estão agora à espera que os salários em atraso de fevereiro sejam pagos durante o dia de hoje e segunda-feira.

“A informação que temos é que os salários serão pagos entre amanhã [sexta-feira] e segunda-feira. E o ordenado de março também está assegurado no final deste mês”, disse ao JE Luísa Borba da CT da Groundforce.

O acordo entre a Groundforce e TAP prevê a recompra de equipamentos em 60 dias?

Sim. O acordo entre a empresa de handling e a companhia prevê que os equipamentos possam ser comprados de volta em 60 dias. A indicação foi dada no Parlamento na quinta-feira por Fernando Henriques do sindicato SITAVA, e também pela própria CT.

“Sim, é uma recompra. A TAP compra os equipamentos à Groundforce como forma de garantia do empréstimo e daqui a 60 dias readquire os equipamentos, que deviam ser alugados”, segundo Luísa Borba da CT da Groundforce.

Qual o equipamento em causa?

Entre os equipamentos que a Groundforce vai vender à TAP encontram-se: tratores, ‘push backs’ (rebocadores), escadas e autocarros, “entre outros equipamentos que configuram a atividade de handling”, conforme descreveu o presidente do conselho de administração da TAP na quinta-feira no Parlamento.

“Estamos à espera que nos seja concedida a lista de todos os equipamentos”, segundo Miguel Frasquilho.

Quando a TAP estiver na “posse de toda a informação que ainda não temos”, então vai ser possível “celebrar o contrato e disponibilizar os montantes imediatamente”, de acordo com o PCA da companhia aérea.

Quando é que vai ser tomada a decisão final?

O acordo vai ser votado hoje em reunião do conselho de administração da Groundforce, onde a TAP se encontra em minoria, pois é acionista minoritária da empresa.

Em cinco elementos do CA da Groundforce, a TAP conta com dois elementos, um executivo e outro não executivo, com os restantes três a pertencerem à Pasogal, explicou ontem Miguel Frasquilho. Já na comissão executiva da empresa, conta com uma administradora.

Qual a posição da Pasogal?

A acionista maioritária da Groundforce congratulou-se com o acordo alcançado na quinta-feira. “O acordo alcançado agrada à Groundforce”, disse ontem a Pasogal.

“Resolvida a urgência, a Groundforce continuará a empenhar os seus melhores esforços, certamente com o apoio dos acionistas Pasogal e TAP, no sentido de resolver a questão de fundo. É preciso criar as condições para que a empresa possa desenvolver tranquilamente a sua atividade, como aconteceu nos últimos 8 anos, preservando os postos de trabalho e o valor criado”, de acordo com a empresa detida por Alfredo Casimiro.

E o aumento de capital proposto pela TAP?

A TAP propôs à Groundforce um aumento de capital no valor de sete milhões de euros. Mas a Pasogal não aceita ir a jogo nos termos propostos pela companhia aérea. Por sua vez, a TAP rejeitou os termos que constavam da contra-proposta do acionista maioritário.

“Tenho vontade e capacidade financeira de ir ao aumento de capital, mas tenho de perceber o futuro da TAP. Não posso estar a colocar dinheiro na empresa, com o contrato com a TAP a vencer em julho de 2022 e as licenças [de atividades emitidas pelo regulador ANAC] a vencerem em 2023 e 2024”, disse Alfredo Casimiro na quinta-feira no Parlamento.

“Preciso de ter garantias do prolongamento dos contratos com a TAP, saber se tenho condições técnicas, e da atribuição das licenças promovidas pelo nosso regulador ANAC. Tenho capacidade para ir a um aumento de capital, mas só farei esse investimento se tiver condições para recuperar esse investimento num certo e determinado numero de anos”, destacou na sua intervenção.

Com base nas suas próprias estimativas e nos números da IATA, Alfredo Casimiro prevê “10 anos para conseguir recuperar esse investimento de aumento de capital, que será entre os sete e os 10 milhões de euros. Não é firme que esteja fechado nos sete milhões”.

Por sua vez, a TAP considera que a contraproposta feita pela Pasogal para o aumento de capital não fazia sentido.

“O aumento de capital seria inteiramente subscrito por nós”, mas a TAP estava preparada para deixar a Pasogal participar na operação, apontou Miguel Frasquilho ontem na comissão parlamentar de economia.

“Essa contraproposta não podia ser aceite porque não era praticável. Só a avaliação do valor da empresa podia durar um mês”, destacou o PCA da TAP.

E o pedido de empréstimo de 30 milhões de euros pela Groundforce?

A Pasogal disse na quinta-feira acreditar que “depois destas difíceis semanas, contará com a celeridade das entidades oficiais para a concretização do empréstimo com o aval do Estado que permitirá recuperar, de forma definitiva, o normal funcionamento da empresa”.

Este empréstimo tem um valor de 30 milhões de euros e vai permitir que a companhia tenha capacidade financeira para a sua operação no médio prazo, isto é, além de março.

O acionista maioritário da Serviços Portugueses de Handling (SPdH)/Groundforce criticou ontem no Parlamento a demora do Governo em despachar o processo de pedido de financiamento para a empresa no valor de 30 milhões de euros, que conta com um aval do Estado.

“A ajuda, até hoje, nunca chegou. Não se percebe porque é que foram anunciadas tantas linhas de apoio Covid, e qual a razão pela qual o nosso processo esteve parado nos Ministérios das Finanças e Economia deixando a Groundforce chegar ao ponto de não ter dinheiro para pagar salários”, afirmou Alfredo Casimiro na quinta-feira na comissão de economia.

O plano de reestruturação da TAP tem implicações na Groundforce?

Sim. O plano de reestruturação da TAP prevê a redução de custos na Groundforce, disse o presidente do conselho de administração da companhia aérea na quinta-feira,

“O nosso plano é muito duro, muito exigente. Todo o grupo TAP tem de ser mais eficiente e produtivo, O custo em todas as áreas tem de baixar. Nos serviços em termos de handling, isso também está contemplado”, afirmou Miguel Frasquilho ontem na comissão parlamentar de economia.

O plano de reestruturação da empresa está a ser avaliado em Bruxelas e deverá ser aprovado pela Comissão Europeia no primeiro semestre deste ano.

Sobre o plano, Miguel Frasquilho destacou: “Vamos ter de ser mais eficientes, mais produtivos e baixar custos. Tem a ver com os custos na prestação dos serviços de handling”.

A TAP e a Groundforce já começaram a negociar o novo contrato?

Não. O contrato entre as duas empresa termina em julho de 2022 e as negociações ainda não arrancaram.

“O tema da renegociação do novo contrato ainda não foi aberto”, disse Miguel Frasquilho na quinta-feira.

“É normal que os contratos sejam revistos. Estamos disponíveis para essa renegociação”, avisou o presidente do conselho de administração, que respondeu logo a Alfredo Casimiro: “10 anos de contrato não configura uma situação normal”.

Antes, o dono da Pasogal tinha defendido um contrato de 10 anos para a Groundforce. “10 anos de contrato é o que precisamos, para conseguir recuperar o dinheiro que somos chamados a meter lá, para garantir os 2.400 postos de trabalho”.

Alfredo Casimiro vai ficar na Groundforce?

Sim, segundo o próprio. “Tenho vontade e tenho condições”, disse Alfredo Casimiro na quinta-feira na comissão parlamentar de economia.

“Já salvei a empresa uma vez, e tenho condições para a salvar uma segunda vez”, com a ajuda dos “apoios do Estado português e da União Europeia”.

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