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Grupo Soja de Portugal quer atingir 40% de exportações em 2022

A aposta nas exportações resultou em grande parte da crise que se abateu sobre o país, mas, passado o pior momento, é uma estratégia que o grupo tem todo o interesse em repetir. O que não é para repetir é o mercado de capitais, que a Soja abandonou em 2000.
14 Outubro 2018, 16h00

A Soja de Portugal, um dos maiores grupos agroindustriais portugueses, quer aumentar a sua exposição à exportação até um patamar acima dos 40% do volume de negócios no exercício de 2022 – depois de ter fechado 2017 com uma quota de 25%. Em declarações exclusivas ao Jornal Económico, o CEO do grupo, António Isidoro, explicou que o aumento das exportações num quadro em que o volume de negócios, que foi de 158 milhões de euros em 2017, também deverá aumentar é uma estratégia consistente: a exposição às vendas para o exterior não ia além dos 8% a 9% em 2012.

O exercício em curso, disse ainda, aponta para esse sentido: as vendas em Portugal estão a crescer a 2%, ao mesmo tempo que a faturação no exterior evolui 20%. O patamar dos 40% a cinco anos é por isso, para o CEO do grupo, realista e perfeitamente alcançável – se a envolvente externa não se alterar radicalmente, como é sempre possível que aconteça, salientou.

A Soja veio ganhando dimensão nos cinco anos, altura durante a qual aplicou valores próximos dos 10 milhões de euros no crescimento por aquisições. Nesta altura, o grupo é composto, para além da empresa-mãe Soja de Portugal, por 10 empresas: Sorgal, Avicasal, Savinor, Sojainveste, SPA, Agromar, Granja de S. Tiago, Sociedade Avícola do Freixo, Transportes Sorgal e Indoliva – a única que não é detida a 100% (o grupo tem uma participação de 39%).

O grupo, que deverá atingir no final do ano uma faturação agregada da ordem dos 167 milhões de euros, tem 637 colaboradores diretos e cerca de 1.400 indiretos e a nutrição animal é o negócio mais importante (mais de 47% da faturação), seguindo-se a venda de carne de aves (45,5%). António Isidoro salienta que o EBITDA “é confortável, na casa dos 8% sobre os resultados consolidados” e que o rácio da dívida líquida sobre o EBITDA é de duas vezes, com tendência a baixar face aos resultados do primeiro semestre”.

Internacionalização

A estratégia de internacionalização começou pelos mercados de Espanha, Grécia (único país onde o grupo tem uma sucursal “e onde nunca tivemos um incobrável”) e Chipre. Depois evoluiu para cerca de 20 geografias, onde pontificam, além daquelas, a França, Itália, Reino Unido, Alemanha, Turquia, Bulgária, Polónia onde esperam voltar a entrar depois de um primeiro momento que não correu bem – e a Arménia. Este último caso é o mais inesperado: os compradores arménios compram ao grupo alimento para esturjão, o peixe de onde é retirado o muito exclusivo caviar. Segundo disse António Isidoro, o grupo está a fazer experiências noutros mercados, como sejam os do Líbano, Taiwan, Ilhas Maurícias e vários destinos na Península Arábica. Nutrição animal e, particularmente, a aquacultura são as áreas que o grupo privilegia em termos de crescimento; sendo os produtos frescos, do lado da carne de aves, aqueles que merecem a atenção da Soja em termos de reforço das vendas.

A aposta na internacionalização deu-se, avançou o CEO do grupo, como resposta à crise que afetou o país a partir de 2008 e que foi especialmente destruidora para industrias e comércio que operavam em segmentos de mercado muito maduros, como era o caso da Soja.

Para António Isidoro, a intenção é nutrir o grupo com musculatura financeira para acomodar ”a próxima crise, que não sei se será a três ou a cinco anos, mas acaba sempre por chegar e terá uma distância mais curta em relação à seguinte”. Até porque, considera, a envolvente é muito difícil. Ou está a ficar – e tem um nome: Donald Trump.

Para o CEO do grupo, os tweets do presidente norte-americano e os seus avatares em termos do comércio planetário são sintomas de que uma crise pode estar próxima. No caso da Soja de Portugal, a exposição ao que já se vai passando é suficientemente elevada para merecer preocupação.

“Hoje, quando andamos ao sabor dos tweets do senhor Trump… A guerra comercial Estados Unidos-China já se sobrepôs àquilo que são os fundamentais técnicos que têm a ver com as commodities, o que provoca oscilações brutais no mercado da soja, que arrasta o das oleaginosas, que por sua vez arrasta o dos cereais”, numa escalada que não só retira racionalidade ao negócio, como aumenta em larga escala o risco que lhe está associado.

Bolsa? Não.

Seja como for, o grupo Soja de Portugal não está a contar regressar ao mercado de capitais. Apesar de ter uma história na bolsa que já acabou há algumas décadas (saiu do mercado em outubro de 2000), esse é um assunto que, para António Isidoro, está arrumado.

Na altura, o acionista Parsoma (que é ainda o único acionista) assumiu a obrigação de adquirir todas as ações detidas pelos acionistas que não tivessem votado favoravelmente, na assembleia geral de junho anterior, a operação de retirada da qualidade de sociedade aberta. Na operação, o acionista acabou por gastar cerca de um milhão de euros.

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