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Guerra acaba com entendimento possível em cimeira do G20

Na Índia, a cimeira acabou sem que fosse possível aos presentes encontrarem uma base de entendimento para a redação de uma declaração conjunta. Mesmo assim, Lavrov e Blinken conseguiram trocar algumas palavras.
2 Março 2023, 17h59

O secretário de Estado norte-americano Antony Blinken, reuniu muito brevemente com o seu homólogo russo, o ministro das Relações Exteriores Serguei Lavrov, naquele que foi o primeiro encontro dos dois diplomatas desde o início da guerra na Ucrânia. O encontro sucedeu à margem de uma cimeira de ministros dos Negócios Estrangeiros do G20 em Nova Déli, na Índia.

Segundo as agências internacionais, Antony Blinken manifestou a Lavrov o compromisso dos Estados Unidos de apoiar a Ucrânia e pressionou a Rússia a voltar atrás na decisão de suspender a sua presença no tratado nuclear New Start. Blinken disse que pediu a Lavrov para encerrar o conflito na Ucrânia: “Eu disse ao ministro das Relações Exteriores o que eu e tantos outros dissemos na semana passada nas Nações Unidas e o que tantos ministros das Relações Exteriores do G20 disseram agora: acabe com esta guerra de agressão, envolva-se numa diplomacia eficaz que possa produzir uma paz justa e duradoura”, disse Blinken.

As fontes noticiosas são omissas em relação à resposta de Lavrov. Nem as agências russas dão nota de qualquer resposta – mas a TASS afirma que o ministro terá dito, numa circunstância não descrita, que “Eles [o Ocidente] decidiram não comunicar connosco, a escolha é deles, embora quando os nossos caminhos se cruzam nos corredores e à margem de cimeiras como esta, nem todos consigam virar as costas e passar sem nada dizer”. Uma declaração que parece ser destinada a Blinken.

O que Lavrov disse com clareza foi que algumas delegações ocidentais transformaram a agenda do G20 “numa farsa”. “Gostaria de pedir desculpa à presidência indiana e aos nossos colegas dos países do sul pelo comportamento impróprio de algumas delegações ocidentais que transformaram a agenda do G20 numa farsa, na tentativa de transferir a culpa pelos seus fracassos económicos para a Rússia”. O Ocidente é o culpado por impedir as exportações agrícolas russas “por mais que os representantes da União Europeia, que têm o hábito de mentir, tentem persuadir a que se pense o contrário”, disse, citado pela agência TASS.

Segundo a mesma fonte, e para além de Blinken, Lavrov conversou com os seus homólogos do Brasil, Índia, China e Turquia.

No final de uma cimeira que se adivinhava difícil, as divergências entre os países ocidentais por um lado, e a Rússia e a China por outro, impediram a redação de uma declaração final. De qualquer modo, sabe-se que todos os participantes concordaram em tornar a União Africana um membro de pleno direito do G20, em igualdade com a União Europeia.

“O Ocidente sacrificou às suas ambições nos assuntos ucranianos todos áreas de trabalho que devem constituir o núcleo das atividades do G20”, disse ainda Lavrov,

O anfitrião, o primeiro-ministro indiano Narendra Modi, abriu a reunião com um apelo ao fim das divisões sobre a Ucrânia, frisando que a governação global “falhou” na abordagem aos desafios internacionais. “Temos de reconhecer que o multilateralismo está em crise”, afirmou numa declaração pré-gravada. “A experiência dos últimos anos – crise financeira, alterações diplomáticas, pandemia, terrorismo e guerra – mostra claramente que a governação global falhou”. Modi apelou aos chefes da diplomacia do G20 para “olharem mais além” das tensões geopolíticas. Mas não foi ouvido.

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