No momento em que escrevo, cumpro o 12º dia de quarentena auto-imposta por ter regressado recentemente de um território já afectado pelo vírus, o Dubai, nos Emirados Árabes Unidos (EAU), por ter membros da minha família no chamado grupo de risco, e por acreditar que esta é a arma mais eficaz para conter a propagação do Covid-19.

Estávamos convictos de que a contenção das grandes epidemias que assolaram o mundo há um século era uma conquista adquirida, mas essa premissa foi deitada por terra com a crise resultante da pandemia causada pelo vírus Covid-19. Entrámos em guerra, uma guerra contra um inimigo invisível, extremamente mortal, e, por uma vez, uma batalha em que todas as nações estão do mesmo lado.

Não existindo um tratamento específico ou uma vacina para um combate eficaz contra o vírus, é fundamental avaliarmos como os países e territórios já afectados pelo Covid-19 reagiram, que medidas de prevenção foram implementadas, e que resultados, positivos e negativos, estão a alcançar.

Aterrei no território do Dubai com 16 infectados pelo vírus no país. O encerramento de infantários, escolas e universidades foi decretado em todos os emirados. Os eventos de grande dimensão, das feiras profissionais aos eventos desportivos, foram cancelados. Também os voos de diversas proveniências foram cancelados ou proibidos. Alguns hotéis que alojavam estrangeiros infectados foram encerrados. O nível de higiene nos organismos públicos, espaços comerciais, hotéis, restaurantes, entre outros, era elevado e em todos era possível lavar as mãos ou encontrar gel desinfectante, inclusive nos táxis.

Volvidas três semanas, o número total de infectados é de 96, sendo que 26 já tiveram alta e não registam até ao momento uma única morte.

Itália encontra-se na situação oposta. Governo e população desvalorizaram a epidemia, não reagindo atempadamente, e agora o país apresenta o pior quadro: no dia em que escrevo, terça-feira, contabilizam-se 28 mil infectados e 2.150 mortes.

Tal como Itália, Portugal tem uma das populações mais envelhecidas da Europa e a quinta a nível mundial. Por essa razão, a somar a um sistema de saúde debilitado, somos um dos países que terá necessariamente de avançar para medidas drásticas para conter o vírus.

Com 448 pessoas infectadas em Portugal, é a altura de o Governo decidir adoptar medidas ainda mais radicais para minimizar a destruição que o vírus poderá provocar na sociedade e na economia.

Depois do encerramento de escolas, universidades, diversos organismos estatais e fronteiras, este é o momento de decretar quarentena obrigatória, estado de emergência, reforçar em orçamento e equipamento médico todas as unidades de saúde no país, e de adoptar medidas de protecção para os operacionais no terreno, desde os profissionais de saúde até aos bombeiros e forças de segurança.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.