Os ataques dos EUA a três instalações nucleares iranianas fizeram o mundo recear uma escalada significativa do conflito no Médio Oriente e levaram Teerão a ameaçar interromper exportações vitais de petróleo e gás da região, relançando os receios de um aumento nos preços da energia.
Já após a resposta do Irão, e dos ataques às bases militares norte-americanas, Donald Trump revelou que foi alcançado um cessar-fogo entre Israel e o Irão, assegurando o fim da guerra dos 12 dias. Mas poucas horas depois, o presidente norte-americano acusou Israel e Irão de violarem a trégua. Mostrando-se irritado e desapontado, Trump deu um ‘murro na mesa’ para que o acordo fosse respeitado.
As próximas semanas serão agora um verdadeiro teste ao cessar-fogo, pois parece assistir-se mais a uma pausa nas hostilidades do que a um acordo totalmente negociado. Veremos se a paz vai perdurar ou abrir caminho a uma nova fase de confrontos.
Para já, não há guerra e, enquanto se avalia a robustez desta trégua, pairam no ar duas certezas. A primeira, o mundo ficou mais perigoso, com o Irão a sinalizar que pode reconsiderar sua adesão a um tratado de não proliferação de armas nucleares após os ataques dos EUA e de Israel, que deram ainda mais motivação para Teerão acelerar o seu programa nuclear com menos restrições. Teme-se que a campanha de Israel, visando impedir uma bomba, possa ter em vez disso contribuído para a sua eventual criação.
Os conflitos entre Irão, Israel e EUA levaram ainda a soar alarmes nos mercados energéticos globais e alertas para o risco de o barril de ‘ouro negro’ encarecer e, num cenário extremo, poder duplicar de cotação e ultrapassar os 150 dólares, fixando máximos históricos.
Surge aqui a segunda certeza: o impacto global decorrente dos choques energéticos desencadeados pela instabilidade no Médio Oriente e o bloqueio de longa duração do estreito de Ormuz – uma das artérias mais vitais do comércio energético mundial. Pairam no ar os episódios inflacionistas com a pressão sobre os preços dos produtos energéticos a potenciar uma rápida propagação à economia global.
A retaliação iraniana com a roleta de Ormuz arriscaria prejudicar não só os EUA e a UE, mas também a China, maior cliente do petróleo iraniano. Para a economia do Irão, já debilitada por sanções e instabilidade interna, a medida seria igualmente um tiro no pé, pois não sairia ilesa de tal bloqueio, dado que grande parte do seu petróleo segue precisamente pelo mesmo estreito que agora ameaçou encerrar.
A tentação do confronto poderá deixar cair por terra toda racionalidade estratégica. A via militar não traz paz ao Médio Oriente, estando o equilíbrio de uma região à beira do abismo. O diálogo pacífico é o caminho correto para resolver os problemas. Esta não é uma novela épica da grandiosa obra de Tolstói, apoia-se em episódios reais, e não ficcionais, de uma guerra nua e crua, que retornou, com outros soldados e tecnologias e noutros territórios.
Tempos difíceis e estranhos estão a ser construídos pelos cavaleiros do Apocalipse que rondam a Terra. Mandatários mundiais descrentes e sem bússola só aumentam a desesperança num mundo mais instável e perigoso.