Sempre ouvi dizer que a minha geração é “herdeira de uma paz duradoura”, mas será mesmo assim? A mudança de século tornou mais distantes as duas Grandes Guerras e a memória de quem as viveu na primeira pessoa vai desaparecendo, ganhando espaço a memória de quem viu – a primeira – na série narrada por Redgrave e de quem leu – a segunda – na obra de Gilbert. Dentro de poucas décadas não restará do passado mais do que a narração dos acontecimentos e a redação dos factos. O testemunho do sofrimento perder-se-á no tempo e, por mais bem retratado que esteja no cinema ou na literatura, isso não será suficiente para impedir um novo conflito armado.

Fazer parte de um mundo que esqueceu o custo da guerra, ver povos governados por indivíduos que vêem a diplomacia como um inimigo e o recurso às armas como um bem necessário é esclarecedor daquilo que pode vir a acontecer à Humanidade. Este estado de coisas merece a nossa maior preocupação, carece de uma liderança forte e rigorosa e de uma diplomacia ágil e eficiente.

O Atlântico não salvará para sempre a Europa, principalmente uma Europa cada vez mais entorpecida e debilitada. É, por isso, fundamental, que a política de prevenção como resposta ao aumento da tensão mundial, seja uma política conjunta dos Estados Membros que integram a União Europeia. A verdade é que ideia de Europa – e permitam-me o furto a Steiner – não é possível sem um clima de paz mundial. Paz essa, recorrendo às primeiras palavras de Schuman, na sua declaração de Maio de 1950, que “só poderá ser salvaguardada com esforços criativos à medida dos perigos que a ameaçam”.

De facto, os perigos que nos ameaçam são muito significativos. O virar do século não trouxe paz, trouxe sim, ao invés, o desenvolvimento considerável da tecnologia bélica e o aumento do armamento; a criação de novos conflitos armados, como a guerra civil no Iraque e na Síria; a maior crise humanitária (desde a II Grande Guerra) causada pelos conflitos vividos no Médio Oriente; o incremento do fundamentalismo, ilustrado pela criação do Estado Islâmico; e a globalização do terrorismo, do qual o 11 de setembro foi uma página negra de tantas outras que devastaram o mundo nos últimos anos.

O último episódio, entre muitos outros que continuam a amedrontar o mundo e a testar a nossa humanidade, é a tensão entre os Estados Unidos da América (EUA) e a Coreia do Norte. Motivados pelos ensaios de lançamento de misseis norte-coreanos, os EUA enviaram um porta-aviões para a península coreana, seguindo-se a troca de diversas ameaças entre a administração de Trump e o regime de Kim Jong-un. Ficar-se-á por aqui?

Existe um provérbio português que nos diz que “não há duas sem três”. Em Portugal, o provérbio parece fazer sentido – por exemplo, Portugal teve três Repúblicas, Portugal foi intervencionado três vezes pelo Fundo Monetário Internacional, etc. Enfim, esquecendo um pouco a sabedoria popular, esperemos que este provérbio não se aplique a este caso. Esperemos, sinceramente, que seja um mero título de uma crónica.