Alguém sabe o que é feito do Pequito? Melhor, alguém ainda se lembra de quem foi Pequito?
Deixem-me refrescar a memória: foi o homem que denunciou a promiscuidade existente entre as farmacêuticas e alguns médicos e que, após inquérito e investigação, acabou por determinar regras para a ligação entre laboratórios e médicos.
Paulo Ralha, o sindicalista que falou na existência de uma lista VIP, embora não tenha saído da cena pública e continue a lutar pelos direitos dos seus associados, não tem tido vida fácil.
O mesmo acontece com todos os que se atrevem a dizer que o rei vai nu e a apontar o dedo às situações dúbias, aos vícios do sistema, à corrupção.
Levámos quase cinco décadas a libertar-nos do jugo da ditadura, da censura, do despotismo, mas passado outras tantas continuamos a braços com uma corrupção e um corporativismo que censura, persegue, desgasta, destrói com o simples intuito de manter um status quo que aproveita apenas a alguns.
É este estado de perfeita promiscuidade organizativa e social que leva a extremismos. Não foi a sociedade que perdeu valores. Fomos nós, cada um de nós. Os que calam e os que se aproveitam do silêncio. Os que amordaçam aqueles (cada vez menos) que ousam levantar a voz contra um sistema que se desmorona a cada dia que passa, mas que mesmo assim são exaltados por altos feitos e serviços prestados.
Dizia Shakespeare que havia algo de podre no reino da Dinamarca, na sua peça Hamlet. Pois bem, a podridão alastrou ao mundo inteiro e não há fronteiras que a travem. E a História já nos mostrou como o caos, a decadência e a corrupção fazem cair impérios mas também fazem nascer ditaduras.
Que não se calem as vozes da razão por muitas mordaças que se lhes tente colocar.