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Há cada vez menos concorrência na economia americana

Há uma narrativa muito popular na história económica americana. Esta narrativa diz que a partir dos anos 80 a Administração Reagan vergou os sindicatos, privatizou serviços, desregulou drasticamente uma parte significativa da actividade económica, cortou impostos e libertou as forças do espartilho do Estado as forças da concorrência e competição que estão na base do crescimento económico.
7 Setembro 2017, 07h30

O resultado foi o boom dos anos 80, em que o PIB americano passou por uma das maiores expansões da sua história, e que levou os próprios democratas a converterem-se às traves-mestras do Reagonomics.

Apesar de poucos disputarem os ‘factos’ da história, sobretudo no que à liberalização da economia diz respeito, há cada vez mais investigadores a pôr em causa a ideia de que estes ingredientes produziram o efeito esperado. A crítica tem sido feita por um grupo pequeno, mas crescente, de académicos que se dedicaram a olhar para métricas directas de competição económica entre as empresas americanas. E o que descobriram deixou-OS a coçar o queixo.

Por exemplo, em 2015 o Council of Economics Advisors, um órgão dedicado a produzir análise económica para a Casa Branca, pôs mãos ao trabalho e confirmou a concorrência, sob muitos pontos de vista, tem na verdade diminuído dos anos 80 para cá. Alguns exemplos, que podem ser descobertos aqui: a percentagem de receitas de cada sector económico que é encaixada pelas 50 maiores empresas desse sector tem subido continuamente; a quota de mercado dos 10 maiores bancos americanos passou de 20 para 50% entre 1980 e 2012; o retorno dos investimentos começou a tornar-se cada vez mais disperso de 1985 em diante, com as super-empresas a distanciarem-se das empresas medianas. Mas o leque de ‘provas’, mesmo que nalguns casos circunstanciais, é bem vasto do que estes três (veja-se, por exemplo, esta).

Agora, um novo paper (que está a dar que falar) vem acrescentar mais uma peça a este puzzle. Em The Rise of Marketpower and macroeconomic implications, Jan De Loecker e Jan Eeckout mostram que o gap entre os custos das empresas americanas e os preços que estas cobram aos consumidores é cada vez maior. Este resultado – que apenas pôde ser confirmado para as empresas listadas em bolsa, mas que provavelmente será extensível às outras – choca directamente com a ideia de que a concorrência aumentou na década de 80, até porque na gíria económica o grau de competição de uma economia é na prática definido como a diferença entre os custos marginais de produção e os preços (numa situação de concorrência perfeita, os preços são esmagados até ao ponto em que os lucros se reduzem ao nível mínimo para manter as empresas a laborar). De Loecker e Eeckout calculam esta diferença para a economia americana (mark-up) e concluem ela tem vindo a subir… precisamente desde os anos 80.

Não há uma explicação clara para este comportamento, mas os autores mostram que o aumento dos mark-ups é um forte candidato para explicar muitas das tendências mais estranhas e incompreensíveis que parecem estar a desenhar-se na economia moderna – como, por exemplo, a redução da fracção do PIB que é recolhida pelos trabalhadores.

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