Depois de Barcelona, Veneza, Amsterdão, chegou a vez de Lisboa. A cidade tornou-se lugar de predileção para franceses, americanos, chineses, todos menos os lisboetas, que sucumbem face aos números destes invasores modernos. Passear na Baixa já não é como era, tem dias. Às vezes há tanta gente nas ruas que para circular é preciso ter experiência de condução em gincanas e rallies, e não se ouve falar português. Depois pensamos melhor e vem-nos à cabeça “passear para quê?” Todas as lojas que conhecíamos de há décadas já se foram, substituídas por bares e pubs, hostels, ou lojas de recordações e tralha para turistas. As hordas estão aí à solta e não são de tártaros, são de turistas.

Isto tem levado por essa Europa fora a resistências e manifestações contra os turistas, esses trogloditas dos dias de hoje. Em Nova Iorque o ‘selfie stick hater’ aparece repentinamente para cortar os sticks de telemóvel com um tesourão de podar. Em Amsterdão os turistas abusam da bebida primeiro e dos locais depois, na cidade com a mais alta taxa de gente inebriada do Mundo; este ano as ‘beer bikes’ foram proibidas e limitados os alugueres pelo Airbnb. Em Veneza há engarrafamento de gondolas e protestos contra o barulho, e o grupo “no big ships” protesta contra a passagem dos navios de cruzeiro no canal Giudecca. Em Barcelona e Maiorca sucedem-se as ações, patrocinadas por grupos como o Arran: atiram confetis aos turistas, brindam-nos com gritaria nos restaurantes, impedem o atracar dos iates e escrevem graffiti que dizem “Tourist, you are the terrorist”. Nas praias de Carnon, em França, Rémi Gaillard voltou a fazer das suas – uma avioneta sobrevoou as praias com uma faixa onde se lia ‘Go home, fucking tourists’, o que deixou o Presidente da Câmara mal disposto.

E não são só os cidadãos normais que estão fartos. Em Windsor, um guarda real, cansado das palhaçadas de um jovem turista, depois de este lhe assentar a mão no ombro apontou-lhe a arma aos gritos de “nao provoque um guarda real” – o troçador acabou troçado no vídeo que os amigos publicaram no youtube. Sua Majestade Elizabeth II passeava discretamente em Balmoral, escoltada por um guarda à paisana, quando foi abordada por um grupo de turistas americanos, que lhe perguntaram se tinha visto a Rainha; a monarca respondeu, apontando ao guarda, “eu não, mas este senhor sim.”

Pede-se a ação dos políticos, desde impostos mais altos sobre os turistas a restrições ao seu número, mas a ação tarda. Acho que eles ainda não perceberam que ou se mexem ou depois dos turistas vão ser eles o alvo.