“Há mercado para M&A em empresas de menor dimensão”: Matoaka e Trespasse.com estabelecem parceria

Paulo Lima, cofundador e co-CEO da Matoaka e Nuno Casimiro, gestor da Trespasse.com, em entrevista falam da recente parceria estratégica entre as duas empresas que, na sua visão reforça a profissionalização do mercado de compra e venda de micro e pequenas empresas (MPE).

“Em cerca de um ano e meio, a Matoaka já viabilizou quatro negócios assinados – três operações de compra e venda realizadas diretamente na plataforma Transfer, que soma mais de 2.700 utilizadores, e uma concretizada fora da plataforma. O nosso serviço de Energize está também a apoiar dez empresas em processo de crescimento”, revela o responsável pela Matoaka na entrevista.

A Matoaka – empresa 100% portuguesa que atua na capacitação de empreendedores e organizações e através da sua plataforma Transfer promove a compra e venda de negócios -, juntou-se ao Trespasse.com – um dos sites mais relevantes neste segmento. O objetivo é “oferecer uma solução mais robusta a empreendedores que procuram vender o seu negócio, com uma avaliação rigorosa e acompanhamento especializado”.

As duas empresas dizem-se unidas pela mesma visão: tornar os processos de transmissão de negócios mais transparentes, eficientes e sustentáveis. “Num ecossistema onde a venda de empresas é frequentemente gerida de forma empírica, esta união traduz-se num passo significativo para a credibilização do mercado”, defendem.

Em que consiste exatamente a parceria entre a Matoaka e a Trespasse.com?

Paulo Lima: A parceria foi desenhada para dar resposta aos negócios de maior dimensão que chegam à Trespasse.com. Sempre que um utilizador pretender vender uma empresa por um valor superior a 200 mil euros é automaticamente encaminhado para a nossa plataforma Transfer, onde pode fazer a avaliação do negócio e contar com apoio profissional em todo o processo de venda. O objetivo é garantir mais rigor, credibilidade e eficácia nessas transações.

Nuno Casimiro: Esta colaboração com a Matoaka permite-nos oferecer aos nossos utilizadores uma solução mais estruturada para negócios de maior valor, sem perder a simplicidade e acessibilidade que nos caracterizam. A Matoaka traz uma componente de acompanhamento e uma abordagem profissional à intermediação. No fundo, a parceria é extensão da nossa missão: ajudar quem quer vender o seu negócio, através de uma resposta mais completa e integrada.

Esperam crescer o número de transações com esta parceria?

Paulo Lima: Sim, acreditamos que esta parceria vai ter um impacto direto no crescimento do número de transações. Ao canalizar negócios qualificados para uma plataforma com apoio especializado, aumentamos a concretização de vendas e melhoramos a experiência de quem compra ou vende uma empresa. Ou seja, simplificamos um processo que, por norma, é complexo.

Nuno Casimiro: Sabemos que há um volume significativo de negócios de valor médio que muitas vezes ficam pelo caminho. Com esta parceria, queremos colmatar essa lacuna e dar um salto qualitativo nesses casos, o que naturalmente terá reflexo no número de vendas concretizadas.

A Matoaka criou uma plataforma digital de M&A (Transfer) e um departamento de consultoria moderna (Energize) no final de 2023. Que operações de M&A já realizaram?

PL: Em cerca de um ano e meio, a Matoaka já viabilizou quatro negócios assinados – três operações de compra e venda realizadas diretamente na plataforma Transfer, que soma mais de 2.700 utilizadores, e uma concretizada fora da plataforma. O nosso serviço de Energize está também a apoiar dez empresas em processo de crescimento.

No caso dos negócios assinados, as operações envolveram sobretudo micro e pequenas empresas em setores como restauração, comércio especializado e serviços. Estes primeiros resultados confirmam a nossa convicção: há mercado para o M&A em empresas de menor dimensão, desde que exista estrutura, transparência e o acompanhamento certo. E o nosso foco agora é acelerar este ritmo com mais ferramentas, rede e capacitação.

Como é que está o mercado de compra e venda de micro e pequenas empresas em Portugal? Em crescimento?

PL: O mercado de M&A para MPEs (micro e pequenas empresas) em Portugal está a ganhar visibilidade e relevância. Durante anos, estas empresas foram ignoradas enquanto ativos transacionáveis, mas isso está a mudar com a entrada de novos perfis de compradores – desde empreendedores que querem começar um negócio e já iniciam com a compra de uma empresa em atividade até profissionais experientes que procuram aplicar o seu know-how em projetos próprios.

Desta forma, estamos a assistir ao surgimento de um novo ecossistema, com mais informação, processos profissionais e maior confiança. Claro que ainda há desafios – como a informalidade e a falta de preparação para a venda –, mas essas barreiras estão a cair. Este é um mercado silencioso, mas com enorme potencial para quem souber olhar para além das métricas tradicionais.

NC: Tal como o Paulo disse, o mercado de M&A para MPEs está a crescer. Desde 2009 que a Trespasse.com tem sido um dos principais pontos de encontro para estes negócios, com milhares de anúncios e mais de 10 mil utilizadores registados, conectando regularmente empresários com investidores e empreendedores.

O que vemos nos dias de hoje é uma maior dinâmica do mercado: há empresas bem estruturadas a aparecer com regularidade, validação por parte dos compradores e um crescimento no número de transações. Estamos claramente num momento de aceleração, com um fluxo sólido de oportunidades mensais de negócios e investidores a aproveitarem isso.

Qual o papel da Matoaka nestas operações? Entram no capital das empresas ou só prestam assessoria e avaliação?

PL: Neste momento, o nosso papel é garantir que todo o processo de compra e venda de empresas decorre com profissionalismo, transparência e segurança para ambas as partes. Atuamos como parceiros estratégicos desde o primeiro momento: avaliamos a empresa, apoiamos na preparação da documentação, estruturamos o negócio e acompanhamos todas as fases de negociação.

Na sua essência, e mais do que intermediar, criamos confiança entre vendedor e comprador, assegurando que cada operação tem os fundamentos certos para se concretizar com sucesso.

Fazia falta um serviço de apoio à compra e venda de negócios de micro e pequenas empresas que não entram no universo das grandes consultoras?

PL: Sem dúvida. Portugal tem mais de 800 mil empresas, sendo que cerca de 96% são microempresas, mas o mercado de M&A está muito centrado nas grandes transações. O nosso propósito é precisamente preencher esta lacuna: trazer rigor, competência e estrutura a operações que, apesar de mais pequenas, têm um grande impacto na vida dos empresários e no próprio tecido empresarial português.

NC: Sentimos que é uma necessidade há muito tempo. A maioria dos pequenos empresários que querem vender, não têm acesso a serviços profissionais de intermediação. Esta parceria vem trazer uma solução acessível, séria e adequada à realidade de cada empresa, sendo a solução certa para quem quer delegar o processo de alienação de empresa.

Quais as metas para este ano? E para 2026?

PL: Para 2025, queremos aumentar o número de transações concretizadas via Transfer e escalar o apoio que o Energize dá às empresas para o seu crescimento e sustentabilidade. Também estamos focados em reforçar parcerias estratégicas que temos vindo a desenvolver ao longo deste ano, como é o caso da parceria com a Trespasse.com, para chegar a cada vez mais empresários e empresas.

Já em 2026, o nosso objetivo está em consolidar a Matoaka como um dos principais players de M&A para micro e pequenas empresas em Portugal, expandir a nossa área de atuação para negócios de maior volume e explorar novos modelos de aquisição e aceleração com base na nossa experiência.

NC: O ano de 2025 tem sido repleto de pequenas alterações na nossa plataforma com vista a melhorar a experiência de utilização dos nossos utilizadores e estamos empenhados nessa melhoria. Vemos esta parceria estratégica com a Matoaka como um ponto de viragem na oferta dos nossos serviços, tornando-os, deste modo, mais completos. Para os pequenos negócios, o site Trespasse.com continua a ser como sempre foi e para a transação de empresas com valor superior a 200 mil euros, usufruem de maior apoio na concretização da venda. De referir que todas as empresas que recebam apoio na venda através da Matoaka, terão também o seu anúncio publicado gratuitamente no site Trespasse.com, obtendo desta forma, máxima exposição no mercado.

Antecipamos que o ano de 2026 seja um ano de enorme crescimento, pois estamos a trabalhar na exploração de novos canais de comunicação para reforçar a nossa visibilidade no mercado da compra e venda de empresas.

As micro e pequenas empresas são essencialmente familiares, é fácil convencer os donos dessas empresas a entrarem em operações de M&A? Ou há alguma resistência?

PL: Acredito que existe alguma resistência inicial, que é natural. Muitas destas empresas são extensões pessoais dos fundadores e das suas famílias, por isso, falar em venda ou entrada de investidores externos pode despertar emoções.

Na maioria dos casos, quando os empresários chegam até nós, já existe uma intenção de avançar com este tipo de operação. O verdadeiro desafio surge, muitas vezes, no processo de alinhamento entre os vários membros da família – seja ao nível de expetativas quanto a valores, condições ou timings da transação.

É precisamente aí que o nosso papel se torna mais relevante: com o acompanhamento certo e uma avaliação transparente, conseguimos mostrar que vender não é abdicar. É garantir a continuidade do negócio com propósito e estratégia. A nossa abordagem respeita o legado dessas empresas e ajuda os empresários a sentirem-se parte ativa do processo – não apenas no momento de decisão, mas em todas as etapas até à concretização.

NC: Acreditamos que, no universo das pequenas empresas, são processos completamente diferentes. Em fusões nas micro e pequenas empresas através do site Trespasse.com, não temos conhecimento que tenham ocorrido, mas as vendas e aquisições de empresas são imensas. Por exemplo, no início de 2025 concretizou-se a venda de uma microempresa em apenas sete dias – algo extraordinário neste setor, onde por norma demoram alguns meses até o processo de venda estar concretizado.

Esta parceria simboliza um momento de convergência entre antigos concorrentes que reconhecem valor em unir forças para responder de forma eficaz às necessidades do mercado. Estão abertos a mais parcerias?

PL: Estamos completamente abertos e este é um dos pilares basilares da Matoaka. Acreditamos e defendemos um mercado mais colaborativo, onde diferentes players podem trazer valor e complementaridade para criar soluções verdadeiramente inovadoras e com impacto real. Esta parceria com a Trespasse.com é um exemplo de como a união pode “fazer a força” e trazer valor a quem está do lado da compra e venda.

NC: O site Trespasse.com sempre esteve disponível para parcerias. Do nosso lado, acreditamos que há espaço para criar pontes e não barreiras. Precisamos de mais colaboração para ganhar escala. Se existirem outras entidades que partilhem esta visão e possam contribuir para um ecossistema mais sólido, estaremos sempre disponíveis para conversar.

Qual é a ambição da Matoaka?

PL: A nossa ambição é clara: queremos ser o interlocutor entre as MPEs portuguesas com potencial e os investidores certos – sejam compradores, parceiros ou fundos. No entanto, o nosso propósito vai muito além do M&A.

Acreditamos que o verdadeiro impacto está em ajudar as empresas a tornarem-se sólidas, preparadas e sustentáveis, mesmo antes de qualquer processo de venda ou investimento. Através do nosso serviço Energize, apoiamos negócios no seu crescimento a estruturarem melhor as suas operações, a profissionalizarem a gestão e a definirem uma visão estratégica de médio a longo prazo.

Queremos provar que o M&A não é exclusivo para as grandes empresas, mas é preciso também ajudar a criar valor antes da transação para que funcione nas MPEs. Em última análise, o nosso objetivo é ser o parceiro de confiança para quem construiu um negócio e agora procura levá-lo a um novo patamar, seja através de crescimento, investimento ou sucessão.