A consciência da degradação socioeconómica associada à escassez dos recursos tornou determinante repensar o futuro, antecipando cenários e soluções tecnológicas. A maior oportunidade do desenvolvimento sustentável é ir ao encontro das necessidades do todos os povos sem comprometer a capacidade e necessidades das gerações futuras, em particular da população mais carenciada.
Em 2018, o secretário geral das Nações Unidas aponta os avanços da quarta revolução industrial, incluindo a combinação de big data, robótica, AI e impressão 3D, como potencial para ajudar a tirar milhões de pessoas da pobreza, alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável, facilitar o alinhamento com os valores consagrados na Carta da ONU e na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
As profundas alterações nas áreas da saúde, transportes e manufatura, nas economias avançadas, devem ser analisadas com atenção no desenho de respostas. Sabendo que o combate à pobreza e exclusão social passa pelo acesso a uma habitação condigna. Como responder a este problema, e de forma ampla, com práticas que recorrem de modo pragmático, criativo e intencional aos materiais, técnicas e processos arquitetónicos sustentáveis?
Como a arquitetura consegue expressar estas aspirações com construção de baixo custo, tirando o melhor partido de materiais locais? A consciência da necessidade de uma construção sustentável, em larga escala, está a fazer o seu caminho junto dos construtores e arquitetos por todo o mundo, procurando respostas na impressão 3D de habitações eco-sustentáveis.
Já que podemos imprimir objetos do dia a dia, porque não imprimir as nossas casas?
A impressão 3D, ou fabrico aditivo, é um dos axiomas da indústria 4.0 e está a transformar os processos de produção, graças à sua capacidade de peças personalizadas. A construção de grandes impressoras 3D capazes de produzir casas em 200 horas, a baixos custos e com materiais locais, é uma realidade que todos devemos conhecer e tem ganho cada vez mais espaço.
A nível mundial, já existem vários exemplos de casas construídas através da impressão 3D. Na Europa, o processo evoluiu muito desde a primeira casa com impressão única de Enrico Dini, impressão 3D D-Shape, exposta na Trienal de Milão em 2010. O melhor exemplo é a habitação desenhada por Mario Cucinella Architects, inteiramente construída com materiais reutilizáveis e recicláveis, provenientes de solo local, neutro em carbono e adaptável a qualquer clima e contexto.
O futuro da impressão 3D é maximizar o desempenho do material rumo à economia verde: construir com terra. Articula-se, assim, o conhecimento ancestral na construção arquitetónica com as mais avançadas tecnologias.
A terra oferece inúmeros benefícios na mudança de paradigma da indústria da construção civil, além de acessível e sustentável, representa um isolamento natural, proteção contra incêndio, impermeabilização, boa circulação de ar, 100% reciclável e conforto térmico. Permitiria, também, reduzir os custos, transporte de material, a pegada carbónica, descartar materiais poluentes e, assim, minimizar o impacto ambiental.
Pode ser uma resposta real às necessidades de viver hoje e no futuro. Construindo habitação para o maior número.