Não se me afigura como novidade que a Internet seja a terra dos trolls, aqueles tipos(as) que criam perfis falsos, ou que sob o seu nome se escondem atrás do seu teclado. Essas pessoas, que podemos ser todos e cada um de nós, pensam-se sempre com uma moral superior à dos outros num dado momento, e assim, cheios de razão passam os seus dias em frente a um computador. Mas não é para vos falar do embrutecimento que a desejada democratização da informação através da Internet, também provoca, que escrevo estas linhas. Escrevo-vos hoje desta tipologia, mas com fundamentos mais complexos do que a frustração diária com a sua vida, pelo menos assim o acredito. Falo-vos dos trolls fascistas.

Um troll deste género, é, diria eu, um refinamento do que ser um troll implica. E eu sei, isto não é nada, mesmo nada académico, mas a verdade é que a minha observação me tem feito chegar a esta conclusão. Perdoem-me os mais sensíveis, hoje não falamos de ciência, mas de percepções. Esta pessoa, esse troll, por norma, tem memorizada bastante informação, como se passasse os seus dias a armazenar conteúdos e detalhes mais ou menos relevantes. No meio da sua argumentação, os trolls atiram para o ecrã argumentos falaciosos, mas cheios de verdades. O problema é que se os factos não são necessariamente mentiras, mas os trolls fascistas usam-nas para convencer outros e tentar convertê-los à sua causa. Claro que, na maioria dos casos, não há na sua argumentação uma ligação coerente entre as realidades, apresentam a sua interpretação, que é simplista e logo mais facilmente vendável.

Para os trolls fascistas, ser-se chamado de fascista é quase uma vitória, serem aclamados de trumpistas provoca-lhes um sorriso e, serem referidos, vezes sem conta, como proporcionadores e apoiantes de teorias da conspiração, são momentos únicos nos seus dias. Claro que não vos digo nada de novo, mas já se viram na situação, por causa destes trolls, ou porque estão chateados, ou simplesmente porque podem fazê-lo, de ceder à tentação de se tornarem também vocês em trolls? Quem nunca? E quem de vós avançou para esse abismo com difícil regresso? Eu procuro não o fazer. Não que seja moralmente superior (se eu o fosse já me poderia auto-denominar de aprendiz de troll) mas porque ser-se um troll, especialmente um do tipo fascista, dá um trabalho grande, e mais, o tempo despendido é considerável.

Ora vejamos: há que policiar todos os que não estão de acordo connosco, apanhar-lhes as fraquezas, os enganos, transformar-lhes os sorrisos em algo questionável, e persegui-los em todas as acções que estes tenham (na Internet, é claro). No final, se isto não resultar avançar com outros trolls para o campo de batalha, sim porque um bom troll actua em manada, o que se manifesta em likes, re-tweets, longas notas acusatórias dos pseudo-inimigos dos seus amigos trolls, de entre outras acções mais ou menos públicas.

Mas já ocorreu ao amável leitor que ainda me lê, reflectir nos recursos que são necessários para converter realidades e certezas: o “Trump é muito mais homem de Estado do que se pensa”, “vamos ser todos vítimas de ataques terroristas porque deixamos que todos os refugiados venham para a Europa”, “no tempo do Salazar é que era”, “tudo são fake news”, etc. Há quem realmente tenha tempo a mais, eu tenho para mim que há boas maneiras de lidar com esta gente, mas não são estas as formas ideais. Por exemplo, confrontá-los com dados e estudos científicos (mas temos mesmo que os ajudar nas interpretações porque troll que se preze vai sempre procurar espremer conclusões que ali não estão); ou optamos por os ignorar, se bem que ignorar pessoas e situações nunca resolveu nada para sempre. Contudo, colocá-los numa “lista negra” ou persegui-los on-line também não é a melhor situação, corremos o risco de nos transformarmos em trolls potencialmente fascistas. Quando isso acontecer, eles terão ganhado.