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Esta geração também está à rasca (eles não conseguem desligar-se)

A nossa ligação à internet e as dificuldades para gerir regras no uso da tecnologia é um dos maiores desafios da educação atual, quer pelas famílias, quer pelas escolas. Coloca-se a questão: A tecnologia passou a controlar as nossas vidas ou somos nós que controlamos o uso da tecnologia?
8 Julho 2017, 18h00

Em termos globais, 34% das pessoas diz ter dificuldade em “desligar-se” das redes sociais e apenas 16% refere o contrário. Esta é uma das conclusões de um estudo mundial desenvolvido recentemente pela GfK Portugal, realizado a 17 países: Argentina, Austrália, Bélgica, Brasil, Canada, China, França, Alemanha, Itália, Japão, México, Holanda, Rússia, Coreia do Sul, Espanha, Reino Unido e os Estados Unidos da América.

Entre outras conclusões, o estudo indica que a dificuldade em desconectar-se da tecnologia é uma questão que atinge a população mundial estudada, em especial até aos 49 anos.

O grupo etário mais jovem que foi estudado, dos 15 aos 19 anos é onde existe a maior percentagem de pessoas (44%), contra os 11% que declara não ter essa dificuldade.

Só a partir dos 50 anos de idade se regista um maior número daqueles que não consideram difícil desligar-se. Ainda assim, o grupo etário entre os 50 e os 59 anos regista já 23% com dificuldade em abstrair-se da tecnologia e das redes sociais.

Em termos de género, praticamente não se registam diferenças: 35% das mulheres contra 33% dos homens.

Os países cuja utilização da tecnologia está mais avançada, em particular o Japão e a Coreia do Sul, são aqueles onde se regista, segundo a análise do estudo, uma menor adição às tecnologias. Estes países estão acompanhados pela Alemanha e Holanda. Pelo contrário, China, Brasil, Argentina e México são os mais aditivos.

Para abordar este tema, o Jornal Económico falou com a psicóloga e terapeuta familiar Ivone Patrão que lançou, em finais de março deste ano, o livro “#Geraçãocordão – A geração que não desliga!“, focado na problemática do uso excessivo de smartphones e tablets por parte de crianças e adolescentes. No livro, Ivone Patrão reflete sobre as vantagens e os perigos das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) bem como a sua influência desde as relações sociais e familiares às novas formas de estudo.

“É bom estar ligado, mas não é saudável estar dependente de um cordão para ser alimentado a todos os níveis. Há que lançar o cordão, podendo estar ligado à tecnologia e à família de origem, experimentando outras vivências e outras relações”, diz.

As vantagens, conta, estão relacionadas “com a aquisição de conhecimento, com aprendizagens mais precoces e com a facilidade relacional, ainda que virtual”. Por outro lado, aos riscos associa-se “segurança, com a exposição e com a total imersão num mundo virtual”, o que pode dificultar um crescimento físico e psicológico saudável”, alerta a psicóloga.

A autora apresenta um conjunto de boas práticas para pais, jovens e escola, para dedicar apenas o tempo necessário à internet, evitando dependências. A palavra-chave é diálogo. “Primeiro que tudo é necessário que exista diálogo e negociação entre pais, filhos e escola desde tenra idade. Se este assunto não for discutido desde cedo, já perdemos uma parte do comboio”.

Surgem também novas palavras, para novos comportamentos. Likes, selfies, phubbing, youtubers, bloggers, mukbang, Sexting, cyberbullying, ciberstalking e grooming são referenciadas no livro como as próximas tendências. “São as novas tendências online, com muita adesão sobretudo por jovens, e por quem se faça passar por um perfil falso. Na maioria têm uma componente agressiva e/ou de solidão, o que retrata bem a geração que não desliga e que vive muito mais no virtual”.

O conceito literacia digital tem sido também alvo de um interesse crescente por parte da comunidade científica. Num atual contexto marcado por profundas transformações técnicas e tecnológicas a que assistimos e em que participamos, Ivone Patrão diz que a literacia digital não pode substituir a tradicional.

“O que é importante é que as crianças e jovens desenvolvam a sua literacia digital. É importante que saibam o que são direitos de autor, de imagem. Não basta dizer como se pesquisa e utilizar sem regras a informação que se retira online. Arrisco a dizer que alguns adultos, que são agora pais, não têm um bom nível de literacia digital. E se assim é, teremos que fazer como aconteceu com o programa da reciclagem – foram as crianças que levaram informação para casa”, sustenta.

A era dos Youtubers 

Miguel Luz é um dos muitos testemunhos no livro #Geraçãocordão – A geração que não desliga!. É um dos mais conhecidos youtubers portugueses. Em 2016 lançou o livro “Curso Intensivo para Sobreviveres à Escola” que foi um sucesso a nível nacional.

O Youtuber diz que esta é uma geração que “sente uma necessidade superior a si próprios de estar a par da vida de pessoas que provavelmente nem conhece” e reconhece os riscos de um uso excessivo das tecnologias. “Podemos esquecer-nos de nós próprios. Essa é a principal e a que mais me marcou até agora. Às vezes é preciso largar o telemóvel e esquecermo-nos dele durante uns dias”, assume.

Em média, são as raparigas que mais vêem os seus vídeos. “60% de raparigas e 40% de rapazes”, diz.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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