O Pacto Ecológico Europeu que pretende reunir regiões, comunidades locais, sociedade civil, empresas e escolas, em torno de um objetivo comum, transformar os desafios climáticos e ambientais em oportunidade, justas e inclusivas, em todos os domínios de intervenção através da concretização de um conjunto de políticas ambientais, assume uma posição de charneira na definição da identidade coletiva europeia.
A mobilização financeira associada, para os próximos seis anos, exige, assim, uma tomada de consciência sobre a premência na implementação de soluções ecológicas nas cidades, das quais todas as sociedades contemporâneas dependem.
Os arquitetos estão conscientes destes reptos há algum tempo, é claro, porém a proporção daqueles que estão, firmemente comprometidos com práticas sustentáveis e ecológicas permanece pequena. A maioria tem estado focada em torno das capacidades de tecnologias simples para produzir energia, reciclar resíduos ou paredes verdes. Pensar, simultaneamente, à pequena e grande escala exige uma consciência que, atualmente, é impensável em muitos padrões existentes da atividade criativa, social, política e económica.
Em Portugal, a perspetiva de Gonçalo Ribeiro Teles, pertencente à primeira geração de arquitetos paisagistas formados em Portugal, que faleceu recentemente, é um excelente ponto de partida para a consciência da identidade coletiva ecológica do ponto de vista holístico. Um todo que deve aliar a função e a estética com sabedoria, ou seja, unir a ecologia a fatores culturais disseminados de diversas formas no interior de cada comunidade.
Nesta correspondência, a vinculação da cidade ao sistema ecológico é crucial. Visão defendida por Ian L. McHarg, pioneiro do movimento ambiental, no livro “Design With Nature” em 1969, considerado, hoje, um marco do movimento ecológico.
É necessário assumir os espaços abertos e verdes, como fazendo parte integrada e não adicional da estrutura urbana. Seguindo os ensinamentos de McHarg é, ainda, indispensável conciliar as aspirações da sociedade tecnológica com a preservação dos processos ecológicos existentes em cada território. Esta salvaguarda implica não só a obtenção de uma qualidade de vida sustentável como, também, a valorização das características próprias de cada meio físico.
Neste sentido, o legado de Gonçalo Ribeiro Teles, permite ter consciência que a solução para o futuro das cidades do século XXI passa por recuperar a unidade dos sistemas com a diversidade. Em Lisboa, destacam-se os projetos do Corredor Verde Parque Eduardo VII a Monsanto, os Parques Periféricos da Charneca à Ameixoeira e até Carnide. Idealizados há vários anos, dotaram a cidade de uma estrutura ecológica com diversos jardins e parques, prados, áreas hortícolas, searas e equipamentos de usos diversos (ciclovias, circuitos de manutenção, parque infantil, skate-parque, restaurantes, quiosques e miradouros).
Outro importante contributo para esta reflexão é a defesa dos logradouros nos interiores dos quarteirões e os quintais da cidade, que remetem para a necessidade de combater a impermeabilização dos solos, a importância da vegetação na refrigeração da cidade no verão e no impedimento de acumulação de CO2 na atmosfera.
O futuro das cidades na Europa depende de uma visão holística sobre o existente e os sistemas de diversidade que permitem ter consciência da maximização do impacto ecológico e social, fomentando um movimento criativo e interdisciplinar que promova normas estéticas e funcionais, em sintonia com as tecnologias numa resposta urgente e ambiciosa.