“Bagão Félix, Idália Serrão e Mota Soares comoveram-se no cinema com o absurdo na Segurança Social” é o artigo de Joana Beleza, no Expresso Diário, que os convidou a ver e comentar ‘Eu, Daniel Blake’. O filme, de Ken Loach, é sobre um carpinteiro inglês “assassinado” pelos serviços públicos de segurança social inglesa.
Não é possível escamotear a sua falta de pudor e total ausência de sentido crítico. “Esquecem” o que aconteceu ao sistema britânico, o tal Welfare state, o “Estado do bem-estar”, o dito Estado Social, um dos mais, senão o mais avançado do mundo. Assim não precisam de falar de Thatcher, Blair, Cameron e das suas políticas neoliberais contra o Welfare state. O que aconteceu a Daniel Blake não foi há 50 anos. Foi ontem e é hoje! Não são capazes de explicar nada sobre a actual e grave situação dos sistemas de segurança social. Apenas constatam que é igual à descrita no filme.
Quem são os culpados? “O sistema”. “A burocracia”, dizem os três, “em uníssono”. (Que costas largas tem esta senhora!) “Os pequenos poderes paralisantes” (IS). “O outsourcing (..). Existe mas não deveria existir” (BF). Como?!? E quem mais? Evidentemente os trabalhadores da Segurança Social. Podiam lá ser esquecidos: “é uma falta de humanidade nos serviços” (MS); “a dimensão humana tem de ser trabalhada” (IS); não têm “formação”, “no call center é preciso estar gente formada” (MS). E, naturalmente, “não se pode retirar – como tem acontecido – recursos humanos e mandá-los para processos de requalificação”, diz Idália Serrão, dos governos da Mobilidade Especial para a requalificação… O pano não cai, incendeia-se de tanta desfaçatez.
Eles não são culpados! Não viam os problemas dos serviços que dirigiram directamente. Não fizeram nada enquanto governantes porque não viam. Não. Só agora, como ex, “a boa distância” (BF), é que detectam as coisas e identificam “muito melhor os erros que cometi” (BF). Quais erros? Mistério… Os três de acordo, que o filme “é simbólico” (IS), “está cheio de símbolos” (MS). Símbolo(s) de quê? Mistério… Explico. Símbolo da política de direita para os serviços públicos. Símbolo do esvaziamento e destruição da Segurança Social, enquanto serviço público e universal, que levaram a cabo a mando dos seus governos.
O Daniel Blake está entre nós! O discurso de Blake – “O meu nome é Daniel Blake, sou um homem, não sou um cão, não sou um cliente, não sou um número. Exijo os meus direitos. Exijo que vocês me tratem com respeito. Eu, Daniel Blake, sou um cidadão, nada mais, nada menos” – não é contra os trabalhadores da segurança social, como querem indiciar as três personagens. É contra eles. É contra quem fez da segurança social o monstro que engoliu Daniel Blake. Contra quem fez o mostrengo que cansa e arrasa trabalhadores e utentes do sistema público de segurança social português. A política de direita de PSD, CDS e PS!
O autor escreve segundo a antiga ortografia.